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Uma semana de pesadelo para os conservadores britânicos
| Foto: EFE/EPA/FILIP SINGER

Todos os alarmes devem estar ligados no Partido Conservador britânico. As pesquisas já mostravam que o partido provavelmente será derrotado nas eleições nacionais previstas para o fim de 2024. Na semana passada, no dia dois de maio, foram realizadas as eleições locais britânicas, além da eleição de um distrito eleitoral para o parlamento. Dizer que o partido sofreu uma surra não é um exagero. 

Comecemos nossa coluna pelo índice nacional. Os trabalhistas ficaram com 34% dos votos nacionais, enquanto os conservadores ficaram com 25% e os liberal-democratas com 17%. Outros partidos, como os Verdes e legendas regionais, além de candidatos independentes, ficaram com a fatia restante. Em número de conselheiros, entretanto, algo análogo ao vereador brasileiro, o partido conservador ficou apenas em terceiro. 

Dos 2655 conselheiros de 107 assembleias locais, os trabalhistas elegeram 1158, quase metade, enquanto os conservadores ficaram com 515 e os liberal-democratas com 522. Isso significa que os conservadores perderam 515 conselheiros em comparação ao pleito nacional de 2021, originalmente previsto para 2020 e atrasado em um ano devido à pandemia de covid-19. 

Também estavam em jogo onze governos locais eleitos diretamente. No Reino Unido, prefeitos são eleitos diretamente para o cargo apenas em grandes cidades, como Londres ou Liverpool, ou em zonas metropolitanas, que conurbam diversas cidades menores, as chamadas autoridades combinadas. Na maioria dos locais, entretanto, o governo é eleito via as assembleias locais, como um parlamentarismo de vilarejo. 

Sadiq Khan e Londres

Dos onze governos locais eleitos diretamente, os trabalhistas venceram dez, incluindo uma vitória para a autoridade combinada de West Midlands, que estava na mão dos conservadores. Principalmente, com 43,8% dos votos, Sadiq Khan tornou-se a primeira pessoa eleita para três mandatos como prefeito de Londres, cargo que ocupa desde 2016, derrotando a conservadora Susan Hall, que teve 32,7% dos votos. 

Os conservadores, inclusive, perderam um assento na assembleia londrina, a única alteração na configuração do legislativo da metrópole. Dos vinte e cinco assentos, onze estão em mãos trabalhistas e oito com os conservadores, que perderam um assento para o partido Reform UK, populista de direita fundado por Nigel Farage, durante muito tempo uma das vozes mais estridentes para a saída britânica da União Europeia.

O fato de muitos eleitores conservadores terem migrado seu voto para os liberal-democratas, mais ao centro, ou para o Reform UK, mais à direita,  mostra como o Partido Conservador está perdido em suas pautas e alienando seu próprio eleitorado tradicional. Isso é consequência do processo do Brexit, ou melhor, de não saber lidar com o processo do Brexit, tentando equilibrar pautas contraditórias entre si nesses anos.

Não é a primeira vez que isso é apontado aqui em nosso espaço, e o eleitorado britânico está deixando isso claro em seu voto. Os liberal-democratas, por exemplo, são mais tolerantes e abertos à questões migratórias, atraindo os eleitores conservadores que acham absurdo o plano de deportação de solicitantes de refúgio para Ruanda, um plano contestado no judiciário britânico. 

Polícia e pesquisas

E o dois de maio dos conservadores não parou por aí. Também estavam em jogo as eleições de todos os trinta e sete cargos para comissários de polícia na Inglaterra e em País de Gales, uma eleição habitualmente tranquila para os conservadores. Os trabalhistas foram de sete para catorze comissários de polícia, um sinal claro de desagravo pelo eleitorado, motivado inclusive por questões migratórias já citadas. 

Para fechar o dia de pesadelo, o distrito de Blackpool South elegeu um novo parlamentar, já que o conservador Scott Benton renunciou ao cargo depois de ter sido gravado oferecendo fazer lobby para a iniciativa privada. O distrito, historicamente um reduto trabalhista, elegeu o trabalhista Chris Webb com 58,9% dos votos. Os conservadores ficaram com 17,5% dos votos, muito próximos do Reform UK, que teve 16,9%.

As pesquisas eleitorais no Reino Unido apontam uma vitória esmagadora dos trabalhistas no próximo pleito. Algumas pesquisas chegam ao ponto de colocar conservadores e o Reform UK em empate técnico. Esse é o tamanho do buraco em que Rishi Sunak, Liz Truss e Boris Johnson colocaram o mais antigo partido britânico. Nas democracias, felizmente, o fracasso é punido pelas urnas, como foi o caso desse dia dois de maio.

Conteúdo editado por:Jônatas Dias Lima
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