Há dez anos, o cientista cearense Roberto Caracas certamente não imaginava que, em 2018, estaria cruzando o oceano para apresentar mudas clonadas em Portugal, durante a Semana do Brasil, em uma ação da rede de lojas El Corte Inglés realizada a partir desta sexta-feira (2).
Em 2008, o empreendedor e agrônomo trabalhava com fruticultura. Atento à demanda por mudas frutíferas do Nordeste, ele se inscreveu em um edital da Embrapa para incubação de novas empresas. Aprovado, acabou por se especializar na clonagem de plantas, fazendo a seleção e cópia genética das melhores mudas, reproduzidas em laboratório. Assim nasceu a Bioclone, hoje com capacidade para produzir 5 milhões de mudas por ano.
“Começamos com a banana, e agora já temos 12 variedades [da fruta]. Também fazemos cinco variedades do abacaxi, além de cana-de-açúcar e plantas ornamentais. Desde aquela época, até hoje, desenvolvemos novos protocolos para espécies de plantas”, afirma o empreendedor, hoje doutor em Fitopatologia, destacando que a seleção das melhores plantas para serem reproduzidas é feita pela observação qualidade e características fitotécnicas.
Clonagem vegetal e animal
Um estudo realizado pela Bioclone mostra que o aumento da produção chega a 30%, com mudas livres de pragas e doenças. “Ela é diferente do convencional porque tem uma genética só, uniforme, precoce”, garante Roberto Caracas. O processo é realizado todo em ambiente controlado.
Um dos mentores da Bioclone na Embrapa Agroindústria Tropical, em Fortaleza, Genésio Vasconcelos destaca algumas diferenças básicas para a clonagem animal: “A técnica de multiplicação e clonagem de vegetais é mais antiga, realizado com plantas homogêneas, feito em um período menor e utiliza traços que garantem maior produtividade no campo. O ciclo do animal é mais longo”.
“Rusticamente, a técnica poderia ser feita a partir de um galho, mas realizamos invitro. Isolamos a parte reprodutiva da planta e, quando ela vai germinando, cortamos em duas. Assim voltamos a planta para o laboratório para brotar quatro, oito, 16 plantas. Você seleciona uma boa planta e a multiplica. Podemos chegar a 280, até 300 replicações de cópias idênticas à [planta] matriz”, resume Vasconcelos.
Do Nordeste para o mundo
O analista da Embrapa destaca que grande parte da produção brasileira de bananas é feita a partir de mudas clonadas: “O mercado interno tem uma demanda muito alta, seja em bananas ou flores, pois os produtores sempre precisam comprar novas mudas”. O diferencial da Bioclone, comparado a outras empresas, é a versatilidade de entrega de mudas em diferentes estágios vegetativos, da raiz nua para climatização em estufas, ou em estágios mais desenvolvidos.
Agora, a Bioclone chega ao mercado português com o envio de mudas de plantas ornamentais clonadas. “Nossa ideia é entrar na Europa a partir de Portugal. Estamos pensando em montar uma biofábrica por lá”, antecipa Roberto Caracas, que também está buscando o mercado norte-americano desse mesmo tipo de plantas. Outro foco é na África, com o envio de mudas de frutas tropicais.
Além da Bioclone, também vão participar do evento em Portugal outras empresas que receberam assessoria da Embrapa no Ceará: a Natvita, especializada em sucos de frutas tropicais, e a Frutã, que realiza a produção de polpas pasteurizadas de frutas tropicais.