À exceção dos veículos aéreos não tripulados (Vants) militares, nenhum drone do mundo é maior do que o Eleva Spray 150 que está exposto na Agrishow, maior feira tecnológica da agricultura brasileira, que acontece nesta semana em Ribeirão Preto, interior de São Paulo.
O Eleva é a primeira incursão no agronegócio do Grupo Positivo, holding paranaense com investimentos no setor de ensino, gráfica, entretenimento e na produção de computadores, tablets e celulares. Segundo Graciete Lima, consultora de novos negócios no setor agro da Positivo Tecnologia (antiga Positivo Informática), o drone gigante para pulverização agrícola atraiu investimentos do grupo por estar em linha com a “estratégia tomada em 2017 de investir em novas verticais tecnológicas em que o agronegócio, motor da economia nacional, não poderia ficar de fora”.
Produzido por três engenheiros aeronáuticos brasileiros, ex-colegas de turma do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), o Eleva ocupa na garagem, ou hangar, quase o mesmo espaço de um helicóptero – 5,5 m x 5,5 m x 1,5 m – mas, visualmente, a primeira impressão, pela estrutura quadrangular, é que foi inspirado no célebre 14 Bis de Santos Dumont.
“A filosofia de construção estrutural, com treliças, lembra um pouquinho o 14 Bis, mas não foi proposital, foi uma feliz coincidência. Que bom, por que Santos Dumont é um grande orgulho nacional, uma figura lendária na aviação mundial”, afirma Luciano Castro, diretor-executivo da empresa fundada há apenas três anos.
Por ser uma tecnologia disruptiva, o projeto de um drone gigante de pulverização seduziu a Positivo Tecnologia que fez um aporte de capital e hoje detém 40% do negócio da Eleva, permanecendo os restantes 60% nas mãos dos sócios fundadores e colegas de escola. O curitibano Norberto Maraschin Filho, um dos mentores da Eleva, foi quem atraiu a gigante educacional e de informática paranaense para ser sócia do empreendimento.
Os três engenheiros que criaram o superdrone de 5,5 metros, com capacidade de voo de 2 horas e tanque pulverizador de 75 litros, enxergaram no mercado de pulverização agrícola a oportunidade e o desafio de colocar em prática os conhecimentos aeronáuticos acumulados em 20 anos de carreira. “As tecnologias atuais têm suas deficiências. Os tratores compactam o solo e ficam com operação limitada quando ocorrem chuvas. A pulverização por aviões trouxe mais escala, mais velocidade, mas tem de ser feita à luz do dia, em janelas restritas de condições de umidade e temperatura. E os drones atuais são pequenos, possuem baixa autonomia de voo e não atendem às necessidades das grandes propriedades rurais”, diz Castro.
Foi olhando para essas deficiências, e para um mercado com potencial para movimentar R$ 7 bilhões por ano no Brasil, que surgiu a ideia de fazer o superdrone. Voando baixo e pulverizando a uma distância de 1 metro das plantas, o equipamento garante mais eficiência e economia na aplicação de fungicidas, herbicidas e adubos foliares, apenas na medida necessária, e evita o efeito de deriva, quando o produto é levado pelo vento para áreas que não eram alvo. “Mas nosso grande diferencial é que ele pode ser usado à noite, quando algumas condições são mais favoráveis à pulverização. Há mais umidade, temperatura mais baixa, menos ventos e maior facilidade da planta para absorver os defensivos sistêmicos. E do ponto de vista ambiental, o defensivo é aplicado na medida certa, sem desperdícios”, aponta Castro.
A garantia de segurança na operação do equipamento consumiu boa parte do tempo, do investimento e do conhecimento dos sócios. “Na aviação tem isso. Você precisa pensar em tudo o que pode dar errado, tem que arrumar formas de proteger as pessoas e a máquina, se alguma coisa não der certo”, diz Celso Faria de Souza.
Dentre as tecnologias embarcadas voltadas à segurança, estão sensores de ultrassom que detectam presença de qualquer objeto no campo de voo. Se esse objeto não estava no plano de voo, o drone para no ar e espera um comando do operador. Outros sensores e uma câmera varrem o perímetro ao redor do drone em 360 graus, mostrando tudo o que se passa.
Em situações extremas, como a aproximação de um animal em alta velocidade, ou mesmo de uma pessoa desavisada ou criança, existe um botão de pânico. “Você aperta esse botão e ele vai frear o drone e passar o comando ao operador em solo. Se for uma situação mais complicada, existe o botão da morte. Ele corta os dois motores mecânicos e os 6 elétricos e derruba o drone. Como o equipamento voa a uma altura de um metro do solo, ele cai antes de atingir uma coisa ou alguém, o que causaria dano muito maior ou colocaria a vida das pessoas em risco”, explica Souza.
O projeto tem o “apadrinhamento” de Ozires Silva, ex-ministro e fundador da Embraer, que faz parte do Conselho Consultivo da empresa, juntamente com o presidente do Grupo Positivo, Hélio Rotenberg. Além do uso agrícola, a ideia é estender o uso do Vant para a área de segurança pública e inspeção de linhas de transmissão, entre outras finalidades.
“Uma vantagem da Eleva é que a legislação brasileira para uso de VANTs é baseada na europeia, que é a mais restritiva mundialmente. Portanto, as certificações no Brasil vão garantir que nosso equipamento esteja preparado para passar nos testes no exterior também. Essa é a principal premissa para ganharmos escala com agilidade”, salienta Celso de Souza.
Hoje, o projeto conta com 17 profissionais brasileiros, sendo que três deles são PhDs, e estão distribuídos nas unidades Goiânia (GO), São José dos Campos (SP) e Manaus (AM).
O plano dos engenheiros aeronáuticos é atrair novos investidores para viabilizar o lançamento do Eleva 150, no ano que vem, nos principais mercados agrícolas mundiais. Até lá, será escolhido o local da fábrica e serão feitos os arranjos com fornecedores nacionais e internacionais.
O investimento no superdrone não deverá ser o único da Positivo Tecnologia no setor que mais cresce na economia do País. “Nosso objetivo é acolher ideias e negócios para catalisarmos em marcas e produtos que gerem real valor ao homem do campo. A Eleva é o nosso primeiro investimento nesta vertical, mas estamos analisando novas possibilidades”, diz Graciete Lima.
*O repórter viajou a convite do pool de imprensa de empresas expositoras.
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