Se 2015 terminou ruim, 2016 começou pior ainda para as montadoras de máquinas e equipamentos agrícolas no Brasil. Depois de registrar um dos piores desempenhos da década, isso no ano passado, os fabricantes de tratores e colheitadeiras iniciam um novo ano comercial na lona. As vendas em janeiro foram quase 30% menores que em dezembro. Na comparação com o janeiro do ano passado, o recuo foi superior a 50%, resultado que segue na contramão de qualquer expectativa de retomada do setor, pelo menos no curto prazo. Em 2015, a retração na comercialização de tratores foi de 33%. Nas colheitadeiras o tombo foi ainda maior, com quase 40% menos máquinas vendidas na comparação com 2014.
Mas o que está acontecendo? Por que o agronegócio cresce, em área e produção, e a venda de máquinas cai? Em tese, uma contradição, a considerar a relação direta entre produção agrícola e mecanização. Na prática, porém, é preciso analisar isoladamente a estratégia usada no campo para aumentar área e produção e das montadoras para ampliar as vendas. Na linha do tempo dos últimos dez anos é possível verificar que as duas pontas cresceram, de maneira orgânica ou fora da curva, quase que proporcionalmente. Ocorre, que máquina agrícola não se troca todo ano. Depois de uma década de ouro do agronegócio, período em que o Brasil renovou seu parque de máquinas, é normal que o ritmo de aquisições diminua.
Em três temporadas, da safra 2013/14 para 2015/16, a produção de grãos no Brasil tem potencial para crescer 20 milhões de toneladas, para 215 milhões de toneladas, a confirmar o a projeção para o ciclo em andamento. Uma variação de pouco mais de 20% no período, segundo estatísticas da Expedição Safra do Agronegócio Gazeta do Povo. Ou seja, embora negativa para a indústria de máquinas, a variação continua positiva no campo. Um descolamento que mostra, entre outras coisas, que a crise no setor de tratores e colheitadeiras não é generalizada. Mas de apenas de um dos elos da cadeia produtiva do agronegócio.
Além do que, nos parece que houve um erro de planejamento/orçamento das montadoras nas projeções de crescimento, o que impactou ainda mais no equilíbrio econômico-financeiro da indústria. Afinal, não dava para continuar crescendo, e projetar crescimentos, acima de 10% ao ano, como ocorreu até 2012/2013. Faltou lembrar que máquina agrícola não se troca todo ano. E que, por mais que haja expansão de área, parte dela está sendo coberta pela tecnologia e eficiência do parque que foi renovado e modernizado nos últimos anos. O que não significa que as vendas pararam. Elas apenas diminuíram o ritmo. Um ritmo para o qual as montadoras terão que se acostumar, e se adaptar.
Safra de clima e câmbio...
Prova de que a crise das máquinas não espelha a realidade do campo está na safra atual. O Brasil segue da metade para o final de um ciclo acima da média. Não teremos uma safra espetacular, mas com certeza uma boa safra. Mais do que isso, uma temporada que tem produção, preço e mercado. Porque tem clima e câmbio favorável, variáveis que estão sendo decisivas nesta campanha. Está certo que o clima não foi tão bom assim com todos, com todas as regiões. No Mato Grosso, por exemplo, a falta de chuva impacta na produtividade e produção de soja, que de um potencial acima de 29 milhões de toneladas, deve ficar na faixa entre 27 e 28 milhões de toneladas. E que se não fosse o câmbio, numa relação de R$ 4 para US$ 1, a rentabilidade da produção estaria comprometida. Contudo, entre mortos e feridos, na média um bom ano e uma boa safra.
...e de preço
Enquanto isso soja e milho se sustentam com cotações de entressafra em plena colheita. É o mercado invertido, que por influência principalmente de fundamentos, valoriza as cotações, turbina as vendas e as exportações. Com média de R$ 70/saca de soja e R$ 33/saca de milho, as variações atingem a máxima R$ 73 e R$ 40, respectivamente, a depender da praça pesquisada no Paraná. Na soja, o estado e o Brasil já venderam metade da safra que ainda está sendo colhida, diante de uma média para a época de 23% e 39%. No milho, onde a variação de preço mínimo e máximo praticado no Paraná é maior do que na soja, é a escassez do produto em todo o país que determina sua liquidez.
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