A agricultura dos pampas espera muito do novo presidente da Argentina e ele também tem altas expectativas em relação ao setor. Mauricio Macri assume nesta quinta-feira (10), ao meio-dia, com a missão de devolver ao país saúde econômica e influência no mercado internacional, apontam analistas, e o agronegócio pode ser seu braço direito neste sentido.
A Argentina está entre os países com maior produtividade agrícola do planeta. Ultrapassa facilmente 3 mil quilos de soja ou 10 mil quilos de milho por hectare –marcas alcançadas com esforço no Brasil e nos Estados Unidos – e tem custo reduzido. O solo dos pampas é um dos mais férteis do mundo. Além disso, como a maior parte das lavouras está num raio de 300 quilômetros dos portos de Rosário, tem baixo custo logístico.
No entanto, essas vantagens vêm sendo rebatidas pela política interna dos últimos governos, que buscaram agregar valor à produção mas reduziram drasticamente a renda da agricultura.
Um produtor argentino recebe cerca de 25% a menos que um paraguaio ou um brasileiro por uma saca de soja, porque boa parte do valor é retida antes da exportação. As retenções, segundo o setor, praticamente anulam as vantagens logísticas, desestimulando aumento na produção como o observado nos vizinhos da América do Sul e nos Estados Unidos.
Na comparação com o Brasil, a Argentina elevou bem menos a produção na última década. O crescimento da colheita de milho de cada país em dez anos foi de 95% (Brasil) e 62% (Argentina), mostra cálculo a partir de dados aferidos pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o USDA.
Com isso, as duas nações ampliaram as exportações do cereal em 453% e 69%, índices que deixam claro como o agronegócio brasileiro, apesar das desvantagens logísticas (longas distâncias entre lavouras e portos, estradas e ferrovias sobrecarregadas), vem aproveitando melhor a ampliação do mercado internacional.
Na soja, commodity agro mais negociada globalmente, o cenário é semelhante. Nos últimos dez anos, a produção cresceu 41% na Argentina e 75% no Brasil. E as exportações avançaram 55% e 120%, respectivamente, também conforme números do USDA.
Durante seus oito anos no poder, Cristina cercou a Argentina de políticas comerciais protecionistas destinadas a reforçar a indústria local. Ela aumentou os gastos sociais num momento em que milhões de argentinos precisavam de ajuda para sair da pobreza, após a devastadora crise econômica de 2002.
Ajudada pelos altos preços mundiais de grãos, seus primeiros anos no poder foram de forte crescimento econômico. Mas o fim do boom das commodities, combinado com gastos pesados do governo e controles da moeda, contiveram o crescimento e elevaram a inflação para bem acima de 20%.
Para Macri, “a única maneira de combater a pobreza é criando mais postos de trabalho”. Ele promete estimular as exportações permitindo que o peso perca valor.
A continuidade do otimismo depende de uma ação rápida em questões como eliminar uma lacuna de 50 por cento entre as taxas de câmbio oficiais e do mercado paralelo e a redução de impostos sobre as receitas das exportações agrícolas.