Acredita-se que a cerveja foi descoberta em torno de 9.000 A.C na região onde atualmente é o Oriente Médio. Com tanto tempo na área, seria de se esperar que a tradição cervejeira fosse grande. Mas ironicamente não é. Hoje a maior parte da bebida consumida no local é sem álcool, em razão da maioria de religião islâmica. As poucas exceções são cervejas maisntream. Para mudar essa realidade, a 961 Beer nasce em 2006, logo após um período de guerra, como a única cervejaria artesanal do Líbano e uma das poucas em todo o Oriente Médio. E a despeito de todas as dificuldades, está hoje em pleno funcionamento.
Este mês ela chega ao Brasil com três rótulos: Lager, Witbier e Porter. A importação é exclusividade da Brave Company e o produto deve estar disponível inicialmente em São Paulo. Estive presente na degustação de lançamento no restaurante Dalva & Dito, em São Paulo, na quarta-feira (4). O preço sugerido de venda é entre R$ 15 e R$ 20.
As cervejas da 961 Beer
As cervejas são todas feitas dentro dos estilos clássicos, e algumas vezes com ingredientes locais. São também todas de alto drinkability, permitindo que sejam degustadas em maior volume sem problemas.
A Lager da 961 Beer chegou a ser eleita a melhor da sua categoria do Hong Kong International Beer Awards no ano em 2012. É uma cerveja bem encaixada no estilo de baixa fermentação, sendo refrescante, leve, dourada, mas com personalidade marcante, com bom equilíbrio entre a potência dos maltes e amargor do lúpulo. À mesa, segundo o material de divulgação, harmoniza muito bem com pratos da culinária libanesa, como cordeiro, salsichas, falafel, hommus e lentilha, além de comida mexicana, indiana e tailandesa, por exemplo.
A Witbier, cerveja de trigo de estilo belga, segue a mesmo princípio. Combina a leveza do estilo, que pede sementes de coentro e cascas de laranja, com um toque regional: a laranja utilizada é libanesa, variedade que aguça a criticidade e acidez da bebida, trazendo ainda mais refrescância. Combina bem com fattoush, tabule, hommus, além de frutos do mar, mexilhões, sushi e saladas.
A Porter da 961 Beer, cerveja escura de tradição inglesa, é uma cerveja preta opaca, mas tem corpo médio, boa carbonatação e final seco, o que mantém a cerveja leve. É também extremamente aromática, feita com um blend delicado de maltes que lhe dão sabor e aroma lembrando chocolate meio amargo e café com leite. Na boca, o amargor dos maltes torrados se combina a uma leve acidez. Harmoniza bem com kebabs picantes, carnes grelhadas, comidas mexicana e indiana, além de sobremesas à base de chocolate.
Atitude
A história da cervejaria é uma história bastante interessante, afinal é preciso ter coragem para empreender – ainda mais diante das dificuldades daquela região. A ideia da 961 Beer surge em 2005, quando o país estava em conflito com Israel e o fundador Mazen Hajjar, ex-executivo de uma empresa aérea, se encontrava preso em seu apartamento em razão de um bombardeio. Sem energia, Hajjar lia o livro “Beer School”, de Steve Hindy, jornalista que foi correspondente internacional no próprio Líbano e hoje é sócio-fundador da Brooklyn Brewery, de Nova York. Os primeiros parágrafos descrevem um bombardeio em Beirute e a identificação de Hajjar foi imediata, decidindo fazer cerveja também.
Contudo, era muito difícil conseguir a matéria-prima no país na época. A solução veio de um encontro casual com Henrik Haagen, executivo dinamarquês, que se tornou sócio do projeto ainda em construção enviando os ingredientes para Hajjar fazer as cervejas, artesanalmente, em seu apartamento.
Logo a demanda pelas cervejas começou a crescer e em 2006 a 961 Beer já tinha um galpão na periferia da cidade e um pub. Em 2009 Hajjar fecha os negócios para conseguir mais investimentos e fazer uma reestruturação, reabrindo em 2011 com um terceiro sócio, Thomas Norberg. Hoje, a empresa exporta para diversos países e está prestes a abrir uma filial nos Estados Unidos.
Em agosto de 2013 a 961 Beer – nome que remete ao código de ligação internacional do Líbano –, foi tema de reportagem no New York Times. Em entrevista publicada no veículo, Steve Hindy chama Hajjar de “Cavaleiro Solitário”. “É inacreditável que o Mazen tenha conseguido abrir e tocar o negócio no meio daquele caos”, disse.
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