Mais deputados reagiram ao “Protocolo Misoprostol”, a cartilha lançada pelo Ministério da Saúde que dá instruções de uso para um medicamento abortivo de comercialização proibida no Brasil.
Depois do deputado Roberto de Lucena (PV-SP) ter usado a tribuna para apresentar a denúncia ao plenário, os parlamentares Áureo Ribeiro (PRTB-DF) e Pastor Marco Feliciano (PSC-SP) também exigiram explicações do governo. Ambos cumprem muito bem o seu dever de questionar a impressão de material tão controverso com dinheiro público, mas cabem significativas correções nos pronunciamentos que fizeram.
No caso do Pastor Marco Feliciano, é incompreensível o modo como começa seu pronunciamento, saudando com um excesso de elogios o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, para em seguida, com muita polidez, pedir que o mesmo esclareça com seus auxiliares a impressão do manual. O deputado faz parecer que Alexandre Padilha não sabia da publicação de centenas de milhares de cartilhas que carregam a marca do ministério que o próprio Padilha dirige.
Já a nota publicada no site do deputado Áureo Ribeiro comete um erro que este blog considera mais grave. Consta lá, entre aspas, como sendo a fala do deputado: “A presidenta Dilma é contra a legalização do aborto”.
Essa afirmação foi a geradora da maior série de contradições das últimas eleições presidenciais. Com a fartura de provas que a própria Dilma Rousseff produziu contra si mesma a respeito desse tema, é constrangedor ver que algum homem público ainda sustente a frágil tese de que a presidente não quer ver o aborto legalizado no país.
As ocasiões em que Dilma defende a descriminalização de práticas abortivas são tantas que tornariam este post muito longo se fizéssemos uma retrospectiva. No arquivo do portal G1 há um resumo das manifestações públicas de Dilma sobre o tema. Apenas para que não falte a este texto um exemplo adequado, deixo disponível abaixo o vídeo de uma dessas reveladoras entrevistas.
Na Gazeta do Povo
Ainda sobre a cartilha, a Gazeta do Povo publicou neste sábado (09/02) um excelente editorial resgatando toda a história que envolve o caso. Mais um daqueles textos que merecem ser lidos, compartilhados e guardados. Segue um trecho:
A plataforma pró-aborto do governo federal e do PT é conhecida desde o governo Lula – tanto que, em campanhas eleitorais, a legenda se esforça ao máximo para retirar o tema de pauta (inclusive com a ajuda de setores da imprensa favoráveis à causa do aborto), dada a rejeição da maioria dos brasileiros à legalização dessa prática. O PT já tentou liberar o aborto por meio de projeto de lei, felizmente derrubado; e dorme em alguma gaveta de Brasília um projeto de Código Penal que, na prática, permite a eliminação de nascituros até o terceiro mês de gestação. Mas a cartilha do Ministério da Saúde evidencia uma nova orientação: agora, o que importa é atingir a meta de facilitar o aborto no país, ainda que desrespeitando a lei.