O trabalho da jornalista Claudia Wallin, uma brasileira que mora em Estocolmo há 12 anos, vem chamando cada vez mais atenção no Brasil. Ela tem mostrado como uma sociedade mais igualitária e sem mordomias pode funcionar. “Não é uma utopia”, diz ela, em uma entrevista à Gazeta do Povo publicada no domingo.
Em seu livro “Um país sem excelências e mordomias” e em seu blog, a jornalista tem mostrado algumas diferenças importantes entre o modo como suecos e políticos tratam seus políticos e outros profissionais. Abaixo, seguem alguns exemplos.
Mordomias dos deputados
Um dos primeiros pontos que todo mundo cita é a falta de mordomia nas acomodações dos deputados suecos. No Brasil, recentemente, os apartamentos funcionais de Brasília, de 200 metros quadrados, receberam banheira de hidromassagem com controle remoto.
Na Suécia, durante muitos anos, os deputados dormiam nos próprios gabinetes, que tinham um sofá-cama. Depois se rebelaram e acabaram ganhando pequenos apartamentos funcionais. Pequenos mesmos: alguns têm 18 metros quadrados.
Assessores
Os deputados estaduais paranaenses, por exemplo, têm direito a 23 assessores em seus gabinetes. Cada partido também tem direito a mais 12 assessores. E, mesmo assim, eles extrapolam as cotas. Em Brasília, deputados e senadores também têm senadores repletos de gente.
Na Suécia, os deputados não têm funcionários particulares, não contratam ninguém nem têm a própria secretária. Usam os funcionários do Congresso, que atendem a vários parlamentares, e não a um único gabinete.
Os juízes
No Brasil, recentemente, os juízes se autoconcederam auxílio-moradia de R$ 4,5 mil por mês, mesmo sendo proibido acrescentar ganhos aos seus salários. Na Suécia, segundo Claudia Wallin, “nenhum juiz sueco têm direito a auxílio-moradia, auxílio-saúde, auxílio-alimentação, abono de permanência, prêmios, gratificações extras ou carro oficial com motorista. Em números atualizados, os salários dos magistrados suecos variam entre cerca de 15 mil e 30,2 mil reais”.
Ao ser questionado sobre os novos benefícios que os juízes brasileiros querem pôr na Lei da Magistratura, um juiz sueco entrevistado pela brasileira começou a rir. E, obviamente, disse que aquilo era imoral.
A polícia
Desde 2001, depois de uma repressão a uma manifestação em Gotemburgo, os policiais suecos passaram a ter outro tipo de treinamento. Escreve Wallin:
“Na nova forma de lidar com os manifestantes, o mais importante para a polícia sueca não é vencer a guerra – e sim evitá-la. ‘A arma mais importante da polícia é a habilidade de dialogar com os manifestantes, e não a capacidade de reprimir’, diz Österling.
‘E é fundamental que a polícia parta da premissa de que o ato de se manifestar é um direito básico de qualquer democracia séria. Dessa forma, os cidadãos que participam de uma manifestação sentem que têm o apoio da polícia, e que a polícia sempre será a salvaguarda do direito democrático dos cidadãos de protestar’.”
O lixeiro
O lixeiro que Claudia Wallin estava tentando entrevistar para saber como viviam os trabalhadores do setor na Suécia demorou a retornar o telefonema dela. O motivo? Estava esquiando de férias nos Alpes. Quando voltou, mostrou a ela a casa de madeira de 250 metros quadrados com piscina em que mora. Segue um trecho da entrevista.
“Em uma sociedade desigual, nem todos têm direito a uma vida digna. Também sei que em uma sociedade menos igualitária, as pessoas têm que morar trancadas em condomínios, atrás de muros e guardadas por seguranças, para se proteger dos pobres que não têm nada. Como imagino que seja o Brasil.”
“Aqui (na Suécia), você raramente vê a polícia, e existe menos violência”, ele acrescenta. “E os policiais são ok. Ninguém tem medo de atravessar a rua em frente a um carro da polícia, nem mesmo quando o sinal está fechado para o pedestre.”
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