Tinha prometido voltar aos dados do levantamento feito pela Paraná Pesquisas nas manifestações de domingo em Curitiba. Há vários dados importantes para entender o que está acontecendo. A informação sobre os manifestantes que aceitariam uma ditadura ou uma “intervenção militar provisória” (ver o artigo de André Gonçalves para entender por que isso não existe) revoltou leitores que não acreditaram na informação.
Mas dados são dados. E a pesquisa foi feita com metodologia científica. E é o que se tem de melhor para tentar compreender as manifestações. Trata-se de um diagnóstico, e não de uma defesa ou de um ataque a qualquer posição.
Os dados sobre preferência eleitoral dos manifestantes também são significativos. No caso da manifestação em Curitiba, foram 77% que disseram ter votado em Aécio no primeiro turno das eleições presidenciais de 2014. Só 4% dizem ter votado em Dilma. Os outros votaram em Marina, em algum outro candidato ou simplesmente não compareceram para votar (caso de 5,7%);
Em São Paulo, onde a Datafolha perguntou sobre os votos no segundo turno, a resposta foi de que 82% tinham votado em Aécio. Bem parecido.
Uma pesquisa feita pelo cientista político Rodrigo Horochovski, da Universidade Federal do Paraná, mostra outra coisa semelhante: quanto maior a votação de Aécio no segundo turno, maior porcentagem da população saiu às ruas no domingo. Em Balneário Camboriú (SC), por exemplo, houve a maior proporção de manifestantes: um terço da população saiu às ruas. Lá, Aécio venceu com 75% dos votos.
Tudo isso quer dizer uma coisa óbvia: foram os eleitores de Aécio, na maioria, que foram às ruas. Pode ser algo evidente. Mas facilita as análises sobre o que está ocorrendo. Mesmo assim, tudo depende de interpretação.
Se você acredita na tese do governo de que as manifestações são um “terceiro turno”, por exemplo, com os eleitores da oposição se recusando a aceitar a vitória de Dilma e do PT em outubro, os dados podem ser favoráveis a essa conclusão. Afinal, realmente não foram às ruas os eleitores de Dilma. Não é o caso de dizer que “o país” está revoltado com a presidente: quem está revoltada, no máximo, é a metade do país que não votou nela (com exceções).
Se você é eleitor da oposição, pode pregar uma interpretação completamente diferente, apostando que o eleitor de Aécio se incomoda mais com a corrupção e portanto se mobiliza para eventos como esse. Nesse caso, isso implica dizer que o eleitor de Dilma é menos politizado – o que teria a ver com a tese da oposição de que muita gente votou no PT apenas em razão da concessão de benefícios sociais.
A interpretação está em jogo. Os fatos, não.
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