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Três casos de prioridades dos humanos sobre os animais – Parte I

Cobaia - Walter Alves

O post sobre os direitos dos animais que escrevi aqui ontem causou uma boa polêmica. Houve argumentos interessantes de todos os lados. Também houve, claro, quem só quisesse fazer barulho, gritar, se impor no berro. Faz parte. Particularmente, considero o assunto tremendamente importante. por isso, resolvi escrever mais algumas coisas sobre isso.

Em primeiro lugar, um aviso. Isso não tem nada a ver com qualquer possível defesa de instituto x ou y. Aliás, talvez eu devesse ter escolhido outra ocasião para falar o assunto. Houve quem tenha discutido só o caso dos beagles. E, na verdade, não quero falar exatamente disso. Acho só que isso faz parte de um debate muito mais amplo: o que devemos aos animais? o que devemos aos humanos? que tipo de prioridade, se é que alguma, devemos aos homens?

O caso do instituto, a partir daqui, é um caso de polícia. Não sei se eles seguiam a lei ou não. Parece que as provas agora estão destruídas. Parece que faziam coisas bárbaras e injustificáveis. Que respondam por isso. O que eu quero discutir, insisto, é outra coisa. É o fato de haver, me parece, um certo excesso por parte dos defensores dos animais, um certo ardor que pode levar ao fanatismo, e que precisa ser posto sob análise antes que cause efeitos negativos.

Dito isso, tento explicar melhor o que escrevi ontem sobre prioridades para os humanos. Penso que uma boa maneira de discutir o assunto talvez seja por meio de exemplos. Vou apelar para a intuição de cada um de nós, num primeiro momento, para ver como atuaríamos, ou como acharíamos correto atuar, em três casos. Depois, nos próximos posts (prometo um por dia, se tudo der certo), tento analisar os argumentos que me parecem justificar a escolha moralmente acertada em cada caso.

Imagine:

1- Uma situação em que um homem, que não tenha provocado o animal, seja atacado na rua por um cachorro. Suponha que você tenha condições de intervir na situação, e que seja a única pessoa por perto a poder fazer isso. Você tem um instrumento (um pedaço de pau, por exemplo), e pode atuar ajudando um dos dois lados. Causará danos ao outro. Qual seria a atitude moralmente correta? Ajudar o homem é moralmente equivalente a ajudar o animal? Ou o homem tem certa prioridade?

2- Uma situação em que exista uma quantidade limitada de recursos financeiros e duas necessidades prementes. O dinheiro existente pode ou ajudar um humano ou um animal. Os dois têm doenças e, com o recurso existente, só seria possível comprar remédio para um deles. O outro, provavelmente, terá dores e morrerá. É lícito ajudar o animal e deixar o homem de lado? Depende de quem for o homem? Existe uma decisão moralmente certa ou qualquer decisão aqui é moralmente equivalente?

3- Uma situação em que tenha se criado um medicamento que possa trazer benefícios a humanos portadores de uma doença grave. Esse medicamento, no entanto, pode trazer efeitos colaterais er precisa de testes antes de ser aplicado com segurança. É lícito fazer testes diretamente nos humanos? Podem-se usar animais como cobaias?

A mim, parece que as respostas às três perguntas são evidentes. É preciso dar prioridade aos humanos nos três casos, talvez por razões diferentes. Obviamente, para muita gente as respostas não serão evidentes. Outros responderão de maneira oposta. Como disse, pretendo argumentar a favor do meu ponto de vista nos próximos dias.

Espero que isso contribua para uma boa discussão. Quem quiser gritar pode, claro. Se não for mero xingamento, prometo que publico os comentários. Mas acho que há bastante coisa em jogo e que se debatermos em nível mais alto, as chances de acharmos uma resposta de bom senso aumentam.

Em tempo: a colega Anna Simas tem um blog aqui na Gazeta de direitos animais. Ela tem um ponto de vista bastante diferente e, me parece, pretende escrever mais sobre isso também. Eis o link.

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