Mais de 4 milhões de africanos, ou cerca de 40% de todos os escravos que foram obrigados a cruzar o Atlântico, desembarcaram no Brasil. Dessa multidão, praticamente não existe registros biográficos. A exceção leva o nome de Mahommah G. Baquaqua.
Oriundo da faixa ocidental da África, Mahommah escreveu a única autobiografia de um ex-escravo que viveu no Brasil. O livro, publicado em inglês em 1854, está em fase final de tradução para o português pelo historiador e consultor de estudos afro-brasileiros da Unesco Bruno Véras e deverá ser publicado em breve, com apoio do Ministério da Cultura e do Consulado do Canadá.
A obra An interesting narrative. Biography of Mahommah G. Baquaqua (Uma interessante narrativa. Biografia de Mahommah G. Baquaqua, em tradução livre) revela detalhes da passagem dele por Pernambuco e registra as atrocidades da escravidão no Brasil.
Mesmo com “direito à liberdade”, Baquaqua foi vítima do tráfico de pessoas com a finalidade de escravidão no Brasil, em 1845, quando o traslado já era proibido no país desde 1831. Ele era filho de um próspero comerciante da cidade de Djougou (hoje o Norte de Benin), no continente africano, ele foi trazido à força para o Brasil.
De Pernambuco, Baquaqua foi vendido para um dono de escravos no Rio de Janeiro. De lá, teve uma missão de entrega de café na cidade de Nova York, em 1846. No norte dos EUA, onde a escravidão não era mais permitida, ele fugiu. Depois da fuga esteve no Haiti e em seguida voltou para o EUA. Após aprender inglês, migrou para o Canadá.
“Chegamos a Pernambuco, América do Sul, de manhã cedo, e o navio ficou zanzando, sem lançar âncora. Ficamos sem comida e bebida o dia inteiro, e nos foi dado a entender que deveríamos permanecer em silêncio, sem clamor, senão nossas vidas estariam em perigo”, escreveu em suas memórias.
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