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Desigualdade vai aumentar se não houver mudanças na economia, prevê estudo

Sem mudanças na conjuntura atual, a desigualdade entre ricos e pobres em escala global continuará a crescer. A projeção faz parte das conclusões do Relatório da Desigualdade Global 2018 (World Inequality Report 2018). O amplo estudo, realizado por mais de 100 economistas de todo o mundo e que tem como um dos seus coordenadores Thomas Piketty, autor de O Capital no século XXI, prevê que, mantidas as condições registradas desde 1980, a participação da renda dos 1% da população mais rica do planeta aumentará de quase 20% hoje para mais de 24% até 2050. Na parte de inferior, a participação da renda dos 50% mais pobres cairá de 10% para menos de 9%.

Para os pesquisadores, essa projeção não está determinada. Esse cenário poderá ser diferente se o mundo caminhar pela trajetória percorrida pela Europa nas últimas décadas. “Se, por outro lado, todos os países seguirem, em termos de distribuição de renda, uma trajetória semelhante à que a Europa experimentou, a desigualdade poderá ser reduzida, com avanços simultâneos importantes na erradicação de pobreza em escala global”, diz o estudo.

Vladimir Platonow/ABr

Mas há um terceiro cenário, pior de todos. Com base em dados minuciosos e precisos, o estudo conclui que se todos os países seguirem a alta trajetória de crescimento da desigualdade seguida pelos Estados Unidos desde 1980, a participação global da renda da parcela de 1% mais rica do mundo aumentaria ainda mais, chegando a 33%. No outro lado, os 75% mais pobres ficariam com menos de 10%.

Em que pese o tom realista do documento, os pesquisadores não são pessimistas. “A crescente desigualdade de renda não é inevitável no futuro”, dizem ao propor algumas medidas que, segundo eles, poderiam ajudar a frear a escalada de um mundo cada vez mais desigual.

O que propõem

“A tributação progressiva da renda é uma ferramenta comprovada para combater o aumento da renda e a desigualdade de riqueza no topo. Não só reduz a desigualdade pós-tarifária, mas também encolhe a desigualdade antes da tributação, desencorajando os principais ganhadores de capturar maiores partes de crescimento através de uma negociação agressiva para salários mais elevados. Deve-se notar que a progressividade fiscal foi fortemente reduzida nos países ricos da década de 1970 até meados da década de 2000. Desde a crise financeira global de 2008, no entanto, a tendência descendente foi interrompida e revertida em alguns países. O uso futuro da tributação progressiva continua incerto e dependerá da deliberação democrática.”

Combate aos paraísos fiscais

“Embora os sistemas fiscais sejam mecanismos cruciais para combater a desigualdade, eles também enfrentam obstáculos – entre eles, a evasão de impostos. A riqueza que tem nos paraísos fiscais é atualmente equivalente a mais de 10% do PIB global e aumentou consideravelmente desde a década de 1970. O aumento dos paraísos fiscais torna difícil medir e taxar adequadamente a riqueza e a renda do capital em um mundo globalizado. Reduzir a opacidade financeira é fundamental para melhorar os dados sobre riqueza e sua distribuição, promovendo um debate público mais informado sobre a redistribuição e a luta contra a evasão fiscal, o branqueamento de capitais e o financiamento do terrorismo. Um dos principais desafios, no entanto, envolve o registro da propriedade de ativos financeiros. Enquanto os registros de terras e imóveis já existiram há séculos, eles perdem uma grande parte da riqueza dos agregados hoje em dia, uma vez que a riqueza assume cada vez mais a forma de títulos financeiros. Um registro financeiro global que registra a propriedade de ações, títulos e outros ativos financeiros causaria um duro golpe na opacidade financeira.”

Acesso à educação e empregos

“É fundamental alcançar um acesso mais igual à educação e empregos bem remunerados. Pesquisas recentes mostram as enormes lacunas que muitas vezes existem entre os discursos públicos sobre a igualdade de oportunidades e as realidades práticas do acesso desigual à educação. Nos Estados Unidos, por exemplo, de uma centena de crianças cujos pais se enquadram nos 10% inferiores de renda, entre vinte e trinta vão para a faculdade. Esse número atinge noventa, no entanto, entre crianças cujos pais se enquadram nos 10% superiores dos assalariados.

Investimentos

“Enfatizamos a necessidade de os governos investirem mais no futuro, tanto para enfrentar os níveis atuais de renda e riqueza, quanto para evitar novos aumentos. Isto é particularmente difícil dado que os governos tornaram-se pobres e muito endividados nos países ricos nas últimas décadas. Reduzir a dívida pública não é uma tarefa fácil, mas existem várias opções para realizá-la (incluindo tributação, alívio da dívida e inflação), todas utilizadas em toda a história. Encontrar a combinação adequada de soluções exigirá um debate público sério, que deve basear-se em sólidas análises econômicas, sociais e históricas.”

Esse estudo vem corroborar com a tese defendida por estudiosos das mais variadas áreas do conhecimento de que o mundo só terá avanço econômico forte, sustentável e duradouro se houver redução das desigualdades. As camadas mais pobres formam a imensa maioria da população mundial que, com maior renda, poderá impulsionar a economia e o desenvolvimento. A concentração de renda, pelo contrário, inibe o progresso por ser causadora de miséria e problemas sociais de toda ordem.

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