O economista francês Thomas Piketty, o linguista, filósofo e ativista norte-americano Noam Chomsky e o vencedor do Nobel de Economia de 2008, Paul Krugman, são unânimes em afirmar que a concentração de riqueza é a principal responsável pela miséria no mundo e uma barreira para a democracia.
As conclusões desses três personagens importantes para entender o mundo atual são suficientes para demonstrar que as primeiras medidas [e as omissões] do governo Temer apontam para um grande retrocesso no Brasil .
Krugman, que assina uma coluna no jornal The New York Times, cita estudos de um grande número de pesquisadores os quais deixam claro que níveis mais baixos de desigualdade estão associados a crescimento econômico e social maior, não menor. Esses estudos comprovam os benefícios proporcionados à toda a sociedade por medidas que possam aumentar a renda das camadas de menor poder aquisitivo.
Piketty, autor de O Capital no Século XXI [Le capital au XXIe siècle], é claro ao demonstrar que a concentração de renda atenta contra a democracia. A tese de Piketty é que a receita do capital predomina no topo da distribuição de riquezas, e não a renda do trabalho.
Chomsky, um dos intelectuais mais importantes na passagem do século 20 para o século 21, é ainda mais assertivo, ao afirmar que o 1% mais rico do mundo passou a viver da manipulação do capital e atua no sentido de inibir a democracia. Para Chomsky, esse grupo jogou no lixo da história os valores do trabalho e da produção. Quanto mais pobres no mundo, mais ricos eles ficam com a especulação em escala global, “comprando” os poderes executivo, legislativo e judiciário em todo o globo.
O governo Temer, pelo que apresentou até agora, demonstra que veio para agir em prol dos interesses dessa parcela do 1% mais rico. O novo governo não entendeu que tirar renda dos assalariados e reduzir direitos sociais e trabalhistas, direitos previdenciários, de moradia e outros programas sociais vai deixar como legado uma legião de miseráveis. Como em outras fases da história brasileira, o país caminhará para o aumento da concentração de renda, com a consequente ampliação do número de pobres e a piora nos indicadores sociais, sem falar na tragédia na saúde e na educação básica.
Algum defensor do novo governo pode afirmar: mas esses três citados [Piketty, Chomsky e Krugman] são ativistas de esquerda. Tal afirmação não passa de reacionarismo. Longe de rótulos, são estudiosos progressistas, que baseiam seus argumentos em dados, em fatos da realidade ao longo da história da civilização.
Há bilhões de pessoas no planeta que necessitam de alimentos, computadores, internet, remédios, moradias, escolas, universidades, eletrodomésticos, livros, transporte não poluente e tantos outros bens, mas não dispõem de recursos. Muitos não podem nem mesmo ter acesso a itens de primeira necessidade por falta de renda. Paradoxalmente, o dinheiro que precisam está investido no mercado da especulação financeira mundial.
A saída da crise passa por garantias de maior poder aquisitivo aos mais pobres. São as camadas da população com baixas condições de consumo que poderão proporcionar o avanço do país. Quando um trabalhador tem aumento de renda, a economia como um todo se beneficia: comércio, indústria, serviços, turismo.
Não é apenas em economia que o governo Temer sinaliza para uma caminhada longa ao atraso. A montagem da equipe de governo, formada por “notáveis”, é a negação de tudo o que os setores avançados da nação lutaram nas últimas décadas.
Num país com sérios problemas de discriminação e violência contra as mulheres – veja os casos de estupros, só para citar a desgraça atual em evidência na mídia -, é impensável um governo que regride séculos, com um ministério só de homens de ternos pretos (ou azul marinho, se preferirem outra cor).
Se não bastasse uma equipe só de engravatados – sem representantes das camadas populares -, Temer não teve sensibilidade para buscar quadros entre a população negra. Diversidade é uma palavra altamente relevante no mundo civilizado, mas parece não existir no dicionário no governo Temer.