“Artigo 1º – Fica instituída a Unidade Real de Valor (URV.
Artigo 2º – A URV será dotada de poder liberatório a partir de sua emissão como moeda divisionária pelo Banco Central do Brasil, quando passará a denominar-se Real.
§ 1º As importâncias em dinheiro, expressas em Real, serão grafadas precedidas do símbolo R$.”
Esse texto faz parte da Medida Provisória 434, que criou o Plano Real.
Qual governo é autor do Plano Real?
A resposta de muitas pessoas seria: governo FHC (Fernando Henrique Cardoso). Errado. O governo que “pariu” o tão badalado plano de estabilização da economia brasileira foi o de Itamar Franco, em 1994.
É preciso pôr os pingos nos ís. Assim como muitos petistas erram ao dizer que todas as boas ações no país após o regime militar foram obra da era petista, há tucanos que não são honestos quando tentam atribuir ao governo FHCê a autoria do Plano Real.
Itamar Franco é aquele que ficou mais conhecido por ter desfilado com uma namorada mostrando as partes íntimas sem calcinha durante o Carnaval do Rio. Sim, ele mesmo, o presidente do topete, como um galo mineiro.
Itamar era um típico pemedebista histórico, do “MDB velho de guerra” do ex-governador Roberto Requião. O mesmo PMDB de José Sarney, que hoje é o principal sustentáculo – depois do PT – do governo Dilma Rousseff.
Itamar foi do PTB, de Getúlio Vargas, antes de entrar no antigo MDB para lutar contra a ditadura militar. Incrivelmente ficou do lado de Fernando Collor de Melo nas eleições de 1989 como candidato a vice. E, de quebra, ganhou a Presidência com a renúncia de Collor.
A personalidade camaleônica também é marca de Sarney, que foi do PSD, opositor ferrenho da UDN, mas acabou virando udenista. Se não bastasse, foi aliado do grupo que apoiava os militares, compondo as fileiras da Arena, do PDS e do PFL, e depois pulou para o PMDB de Ulisses Guimarães, uma guinada que lhe garantiu a vice de Tancredo Neves e a Presidência da República com a morte do político mineiro.
Jornalistas, escritores, historiadores e outras profissionais responsáveis por fornecer informações históricas têm obrigação de impedir manipulações. Todos estamos sujeitos a erros, mas devemos nos esforçar para esclarecer os fatos.
O sucesso do Plano Real foi a alavanca para eleger FHCê, um dos dissidentes pemedebistas que criaram o PSDB.
Itamar nunca admitiu ser Fernando Henrique o pai do Plano Real. “É uma inverdade dizer que quando ele (FHC) deixou o Ministério da Fazenda para se candidatar, tudo estava pronto e feito.”, declarou anos mais tarde.
Na realidade, foi o ministro Rubens Ricupero – que ficou no lugar de FHC quando este saiu para ser candidato à Presidência – o responsável por disciplinar o Plano Real e as regras e condições para emissão da moeda Real.
Ao governo FHC pode-se atribuir o mérito de colocar em prática o que previa o plano gerado antes de sua eleição, no trágico governo Itamar.