Estava à procura de uma inspiração, buscando um “tema” para escrever…Folhei alguns livros, olhei algumas revistas e nada…Rádio, televisão, tablet, tudo ligado ao mesmo tempo e nada…
Qual não foi minha surpresa ao passar na TV, em um programa de narração em prosa de menor extensão do que o romance, também conhecida como novela (afinal, quem não dá uma olhadinha de vez em quando, não é?!), uma cena onde a mãe questiona o filho sobre suas atividades escolares e ele, com um smartphone na mão, responde que está estudando. A mãe, perplexa, não compreende como aquilo pode significar “estudar” e questiona o fato do filho fazer várias coisas ao mesmo tempo. O garoto então argumenta que está “trocando uma ideia” com seus colegas de turma e que, via celular (fazendo uso de um aplicativo que envia e recebe mensagens pela internet), estão discutindo sobre o trabalho em equipe.
Olhei ao meu redor e então me dei conta de que também estava com uma série de aparatos tecnológicos em volta, buscando uma “inspiração”, estudando, pesquisando, ouvindo, assistindo, tudo ao mesmo tempo… Ok! Tenho alguns anos a mais que o garoto da telenovela, mas o ponto principal não é esse. A questão é: as práticas contemporâneas envolvem uma multiplicidade de linguagens e a escola desta época não pode mais ficar fora disso.
Seja para trabalhar com alunos menores, seja na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Se queremos formar cidadãos capazes de interagir e posicionar-se criticamente diante da realidade atual, precisamos “reinventar” a escola e, nesse sentido, fazer uso das novas tecnologias pode ser uma boa alternativa.
Os desafios são muitos: problemas de infraestrutura, falhas na formação (inicial e continuada) de professores, políticas descontinuadas de inserção dos recursos…No entanto, mesmo diante de tantas adversidades, precisamos fazer o melhor com aquilo que temos e, nesse contexto, o papel do professor é fundamental.
Estamos diante da necessidade de (re)pensar o ensino a partir da mudança da “cultura do papel” para a “cultura da tela” e da existência entre tecnologias tipográficas e digitais na atualidade, como cita o pesquisador Teixeira e Moura, em seus livros. O computador, por exemplo, congrega uma diversidade de mídias, sobretudo quando está conectado à internet. Essa máquina sintetiza conhecimento científico produzido pelo conjunto da humanidade ao longo dos últimos milênios da civilização ocidental. Então essa tecnologia, o computador, que trabalha com a digitalização dos dados (fotos, imagens, textos, filmes, vídeos e músicas) apresenta recursos digitais e congrega linguagens que demandam uma compreensão profunda do usuário. Além de uma apropriação e integração crítica e pedagógica por parte do professor.
Castells afirma em A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade que a grande inovação e transformação cultural da atualidade estão centradas ao redor do conceito de hipertexto, para “repensar a comunicação com base na interatividade e na expressão multidimensional”. A esse respeito outros pesquisadores apontam que não são as características dos “novos” textos hipermidiáticos que se colocam como desafios, pois, se assim fosse, os nativos digitais não teriam tanta facilidade e prazer na navegação. O desafio consiste nas nossas práticas escolares de leitura e escrita que já eram restritas e insuficientes mesmo para a “era analógica”.
Penso que isso vai ao encontro do que diz Sylvia Figueiredo Gouvêa quando afirma que “continuaremos a ensinar e a aprender pela palavra, pelo gesto, pela emoção pela afetividade, pelos textos lidos e escritos, pela televisão, mas agora também pelo computador, pela informação em tempo real, pela tela em camadas, em janelas que vão se aprofundando às nossas vistas”.
Assim, precisamos pensar em práticas de ensino que contemplem o uso das novas tecnologias, da nova linguagem digital, do atual contexto social. As tecnologias fazem parte da nossa vida e não temos mais como nos desvincular delas, o que precisamos agora é inserir essa atividade no planejamento, contextualizá-la e torná-la significativa sob o ponto de vista educacional.
Colocar-se disponível para novas possibilidades poderá trazer resultados surpreendentes! Experimente!
>> Escrito por Glaucia da Silva Brito e Fabricia Cristina Gomes. Glaucia é professora do Departamento de Comunicação Social e dos Programas de pós-graduação em Comunicação (PPGCOM) e Educação (PPGE) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), pesquisadora em Tecnologias de Informação e Comunicação na Educação. Fabricia é professora da prefeitura Municipal de Curitiba e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPR.
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