Troque a planilha de treino pela de economia e calcule: um atleta que participa de provas em todos os fins de semana durante um mês gasta quanto? Entre provas de 10 quilômetros e uma meia-maratona, não investirá menos do que R$ 180, considerando o preço médio das taxas de inscrição.
Esse valor equivale a 33% do salário mínimo nacional. Para um cidadão que recebe esse piso, o custo é superior aos 30% a serem gastos em entretenimento e pequenas compras ocasionais no mês, como recomendam especialistas em finanças pessoais.
Não por acaso, quem corre reclama cada vez mais dos valores das inscrições – que variam de R$ 10 a R$ 110. O professor de finanças da Escola de Economia de São Paulo (EESP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Samy Dana, afirma que as corridas são caras justamente para selecionar o público. “Quem quer simplesmente correr vai para um parque e não paga nada. Quando se fala nessas corridas, paga-se o entretenimento, o produto, o status de estar participando de uma prova”, diz ele.
Organizadores das provas se defendem. Segundo eles, as inscrições bancam os custos dos eventos – que vão bem além do kit de participação, cada vez mais incrementados. Sem lucro algum.
“Você faz a inscrição para a corrida. Não está comprando uma camiseta. O que vem no kit do corredor [além do chip para validação dos tempos e o número a ser fixado na camiseta] é cortesia”, diz o presidente da Procorrer, Tadeu Natálio, responsável pela organização da 5.ª Meia-Maratona das Cataratas (em Foz do Iguaçu, em 3/7, inscrição R$ 90) e outras provas em Curitiba e região, com taxas a partir de R$ 25.
Natálio destaca que o valor varia de acordo com a estrutura. “Na meia-maratona em Foz do Iguaçu está incluso o custo de um jantar de massas, na cozinha de um grande hotel (R$ 18), a taxa de entrada no Parque Nacional do Iguaçu (R$ 11,40 para brasileiros), por onde passa o trajeto, os custos de grades de isolamento, cones, banheiros químicos, camisetas (R$ 13 a R$ 15), chip (R$ 4) medalhas (R$ 5), por pessoa.
“Uma prova dessas tem um custo de R$ 450 mil. Até agora, conseguimos R$ 250 mil em patrocínios”, fala.
Uma corrida menor, de 10 km para 2 mil atletas, custa R$ 60 mil, calcula, em que devem ser pagas as taxas para a Federação Paranaense de Atletismo endossar a prova e ao Diretran para fechar as vias e mandar profissionais para o controle do trânsito. Ainda tem custo com o estafe (R$ 35 a R$ 50 por pessoa), equipes médicas e ambulâncias (R$ 5 mil por equipe) e água, isotônico e frutas para os atletas. “Esses, geralmente, consigo com permutas para as provas do ano todo”, conta o organizador.
Também há corridas em que o produto não é só o evento em si e a inscrição cobre o o custo do kit do corredor. É o caso da Fila Night Run (1.º de outubro, sem valor de taxa definida), Circuito das Estações Adidas (etapa Outono a ser realizada amanhã, R$ 66), ambas organizadas pela Esfera Br Mídia, e a Track & Field Run Series (24/7, R$ 80).
“A prova tem um custo total de R$ 120 mil, para 1,5 mil inscritos [corridas de 5 km e 10 km]. Só a camiseta que o atleta recebe, sairia, na loja, R$ 110. Ele ainda receberá um par de meias e um boné. Esse valor é subsidiado pela marca. O custo da prova e nosso lucro sai do que conseguimos angariar com patrocinadores. Em Curitiba, dá prejuízo. Conseguimos o lucro dissolvendo o valor de todas as etapas”, diz a responsável pelo marketing da Latin Sports, organizadora da Track & Field Run Series, Fernanda Curti.
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Interatividade
Perguntamos aos leitores do Fôlego, via blog, se corrida cara é sinônimo de corrida boa e pedimos a opinião sobre os custos das inscrições das corridas. Confira o que foi dito:
“Os organizadores alegam que o custo do chip é alto e precisam compor no preço da inscrição. Mas se na mesma prova só são premiados os campeões, no geral, para quê utilizar o chip?”
Fábio Renê
“Vale a pena participar de corrida cara que justifique o preço. As corridas organizadas pela prefeitura quase sempre não fazem jus ao que é cobrado. As corridas de rua em Curitiba e em todo Brasil viraram um grande comércio, uma enorme e inacabável mina de dinheiro!”
Sérgio Parolin
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