A barba longa e espessa é um indício de que ele já está na estrada há algum tempo. O brilho nos olhos – que é quase como um código de autorreconhecimento de uma irmandade secreta – comprova definitivamente: trata-se de um cicloviajante. Felipe Baenninger é fotógrafo, paulista, tem 25 anos e mora em sua bicicleta.
Sua empreitada atual é percorrer o país sobre duas rodas. Ver vilas, cidades e pessoas. Clicando, conversando e gravando, o cicloviajante vai construindo o acervo do Fotolivro Transite, que certamente será um tratado antropológico sobre a influência da bicicleta na vida dos brasileiros.
O projeto foi viabilizado pela plataforma de financiamento coletivo (crowdfunding) Catarse. Por meio da ferramenta, Felipe mobilizou 300 apoiadores e arrecadou R$ 21.286 – recursos que estão sendo usados para viabilizar o projeto editorial e a própria expedição.
A meta é pedalar 17 mil quilômetros nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Em cada cidade, Felipe documenta cenas cotidianas do uso da bicicleta, de forma simples e curiosa, observando a estrutura urbana e a cultura local (ou a falta dela) sobre a bicicleta.
A jornada, no entanto, está apenas começando. Felipe chegou a Porto Alegre no início de julho. O plano de logo cair na estrada, entretanto, foi frustrado e sua estadia de uma semana acabou se prolongando por quase um mês. No meio da onda de protestos – da qual Felipe não se contentou em ser apenas espectador – ele acabou levando uma bordoada da brigada militar e precisou encontrar um advogado. Além disso, um tratamento para um dente inflamado acabou lhe rendendo alguns dias de atraso – além, é claro, de boas histórias para contar.
Já pedalou pelo interior e litoral gaúcho, passou por Santa Catarina e chegou ao Paraná, onde subiu a Serra da Graciosa até chegar à capital. O trecho Sul deve ser concluído nos próximos dias – saindo de Curitiba, ele seguirá rumo a São Paulo pelo Vale do Ribeira, onde deve atravessar pedalando o Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar).
“Tenho uma ligação muito forte com as raízes. Gosto de Darcy Ribeiro, daquela coisa de conhecer o povo, entender a cultura, ouvir as histórias”, comenta. Felipe gosta de tocar o braço do interlocutor enquanto conversa. Olha nos olhos. Fala com alegria. “Um dia me dei conta, estava há 7 dias sem abraçar alguém. Saí abraçando todo mundo que aparecia pela frente”, conta.
Toda essa experiência já lhe rendeu algumas conclusões. “O Brasil é ciclável. Só falta se conformar com isso e criar condições para que mais pessoas usem a bicicleta”, aponta. Segundo ele, a bicicleta está enraizada na nossa cultura, o que pode ser observado nas cidades do interior. “Nas cidades menores, a bicicleta está lá e já é parte da rotina e da paisagem. As pessoas usam a bike para ir trabalhar, para fazer compras, para o lazer. Não há uma disputa de espaço com o carro. É uma convivência. Uma simples convivência no mesmo espaço”, afirma. “É esse o caminho”, conclui.
Serviço
Na próxima sexta-feira (23), Felipe Baenninger participará do Encontro de Cicloviajantes, na Bicicletaria Cultural. O evento começa as 19h30. O ingresso custa R$ 5. A Bicicletaria Cultural fica na R. Presidente Faria, 226 – Centro. Informações: (41) 3153-0022.
Saiba mais sobre o projeto Transite
Site oficial: http://projetotransite.com.br/
Perfil no Facebook: https://www.facebook.com/projetotransite
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