Num mundo em que aplicativos e celulares ainda não haviam banalizado o uso de imagens para quase tudo, no mundo como ele era em 1995, o cineasta Martin Scorsese, diretor de “O Lobo de Wall Street”, fez o documentário “Uma viagem pessoal pelo cinema americano” animado em parte pela ideia de que é preciso alfabetizar também para aprender a ler imagens, assim como se ensina a ler palavras.
Ele se referia a filmes e cinema, mas hoje, com uma parte importante da vida acontecendo por meio de fotos e vídeos, essa ideia de ensinar a “ler” imagens parece fazer ainda mais sentido.
Livro serve de companhia para documentário
“Um viagem pessoal pelo cinema americano”, o filme, sai só agora no Brasil. O livro homônimo foi publicado pela Cosac Naify em 2010
Leia a matéria completaCom quase quatro horas de duração, “Uma viagem pessoal...” acaba de ser lançado pela primeira vez no Brasil, numa parceria da Versátil com a Livraria Cultura, sem nenhum alarde. O DVD, batizado “O Cinema por Scorsese”, inclui um segundo documentário, “Minha viagem à Itália”, somando outras quatro horas.
Nesse tipo de empreitada, o sujeito se vê tentado a escrever que Scorsese dá “uma aula” de cinema nos dois documentários. É uma forma de ver as coisas. Mas ver Scorsese sentado numa cadeira simples, quase invisível, de gravata e com o paletó desabotoado, o cabelo mafiosamente penteado para trás, falando sobre cinema, é melhor que uma aula.
DVD duplo inclui os documentários “Uma viagem pessoal pelo cinema americano” e “Minha viagem à Itália”, ambos dirigidos e apresentados por Martin Scorsese. Versátil/Livraria Cultura, R$ 49,90.
É uma conversa meio informal, que não chega a ser íntima. Funciona como se tivéssemos encontrado Scorsese depois da aula. Com o conteúdo obrigatório do currículo coberto, ele pode dizer o que pensa sobre os filmes e cineastas que marcaram sua história.
E o adjetivo “pessoal” no título do documentário é bem importante. Scorsese fala de suas experiências nas salas de exibição nova-iorquinas. Conta da vez em que a mãe o usou como desculpa para ver um filme que havia sido criticado pela igreja, “Duelo ao Sol”, com Gregory Peck e Jennifer Jones, dirigido por King Vidor (até desistir do projeto) e por outra meia dúzia de cineastas que se revezaram no esforço de suportar a megalomania do produtor David O. Selznick (sim, aquele, de “...E o vento levou”).
Scorsese, que na infância sonhava em ser padre até descobrir o cinema, faz bem essa fusão de experiência pessoal com informações de bastidores e análise de filmes. O diretor é, antes de tudo, um nerd com uma bagagem infinita de referências. É um cineasta bem informado, mais ou menos como os críticos que virariam diretores durante a nouvelle vague francesa (François Truffaut e Jean-Luc Godard no abre-alas).
Biografia
Martin Scorsese faz 73 anos no próximo dia 17. Em 1995, quando fez o documentário “Uma viagem pessoal pelo cinema americano”, ele estava com 52 anos. O nova-iorquino é um dos nomes mais influentes dos filmes nos EUA, tendo dirigido “Taxi Driver” (1976), “Touro Indomável” (1980), “Os Bons Companheiros” (1990), “Cassino” (1995) e, mais recentemente, “Os Infiltrados” (2006, pelo qual enfim ganhou o Oscar) e “O Lobo de Wall Street”.
Assim como Truffaut e seus comparsas, Scorsese também faz a defesa do diretor como a figura central na produção de um filme, como o “autor”. Hoje, essa noção perdeu um tanto da força e se aceita que outros profissionais possam ser cruciais da realização de um filme – roteiristas, fotógrafos, atores, etc. O próprio Scorsese já admitiu a influência de Thelma Schoonmaker, por exemplo, na sua filmografia. Ela é quem edita os filmes dele desde “Touro Indomável” (1980).
De qualquer forma, o diretor ainda é uma referência importante. E é ele o centro do documentário, que se divide em cinco partes, falando sobre o dilema do diretor (1) e abordando as facetas de um realizador – como “contador de histórias” (2), “ilusionista” (3), “contrabandista” (4) e “iconoclasta” (5).
Nesse inventário pessoal – “Só posso falar sobre o que me emocionou ou me intrigou”, diz Scorsese –, alguns figurões ficam de fora do documentário. Muitos, como Hitchcock, são mencionados por ele nos minutos finais. Outros pouco ou nada conhecidos ganham atenção – como Alan Dwan, diretor de mais de 400 filmes e homem que fez “Silver Lode”. As ausências não incomodam.
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