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Quando Ofélia encontra Horácio

Peça de autora catalã ganha montagem impactante no Espaço Cênico e marca a estreia de Leandro Daniel Colombo como diretor

Luiz Bertazzo e Ana Clara Fischer encarnam Horácio e Ofélia em uma peça emocionante a respeito da sobrevivência em meio ao caos da existência | Marco Novack/Divulgação
Luiz Bertazzo e Ana Clara Fischer encarnam Horácio e Ofélia em uma peça emocionante a respeito da sobrevivência em meio ao caos da existência (Foto: Marco Novack/Divulgação)

Algumas atrizes têm tamanha identificação com um papel que parecem nascidas para ele. Deve ser o caso de Ana Clara Fischer com a Ofélia de A Falsa Suicida, que estreia hoje no Espaço Cênico. Ela recita o texto da catalã Angelica Liddell há sete anos, quando o leu numa revista, traduziu usando uma versão espanhola e outra portuguesa, inscreveu em um ciclo de leitura dramática e encenou com o ator Marcelo Munhoz.

VÍDEO: Assista a um teaser da peça A Falsa Suicida

Não foi suficiente para ela. Decidida a remontar a obra, ela a inscreveu na Lei de Incentivo Municipal. Conseguiu convencer o ator Leandro Daniel Colombo (o Zé do Caixão de À Meia-noite Levarei Teu Cadáver, da Vigor Mortis) a se atirar junto com ela e fazer sua estreia como diretor.

O projeto foi aprovado e em um mês o dinheiro do patrocínio já estava na conta. Um elo importante foi fechado com a adesão de Luiz Bertazzo para viver Horácio, fundamental para realizar este pas-de-deux mortífero.

E o que a peça tem de especial para arrastar tanta gente apaixonada pelo projeto? Para Colombo, é a sua "visceralidade". "Gosto muito da tridimensionalidade dos personagens. Você vê a pessoa rindo e, no segundo seguinte, toda a sua fragilidade."

"O que me atraiu é ela ser tão completa. Tem tudo, Shakespeare, força", conta Ana, após ensaio acompanhado pela Gazeta do Povo.

Na trama, uma stripper tem um relacionamento estranho com um sujeito que coloca moedas em sua vitrine para vê-la dançar. Ele quer protegê-la. Ela se considera num foco de luz, afirma gostar do que faz.

Quando os dois se aproximam, o desnudamento dela (literal, num ato de coragem de Ana no frio que está prometido para a estreia, hoje à noite) acaba se virando para dentro, e o espectador descobre um pouco mais sobre esse ser confuso. Inspirada na namorada rejeitada por Hamlet na peça de mesmo nome, a personagem criada por Angelica Liddell fala em morte com frequência, relembra a vida e se culpa quando percebe que Horácio dera a vida por ela, recebendo sobre si o corpo caído do quinto andar.

No cenário de Paulo Vinícius, o cabaré vai se transformando em palco, até que o público se aproxima dele demais, a ponto de não poder deixar de confundir a ficção com a realidade. "A cena vem para a frente para tornar-se mais real, mais elisabetana", explica Colombo.

Nos figurinos de Maureen Miranda, está um dos pontos impressionantes do espetáculo. O conjunto rendeu uma ótima estreia para Colombo e excelentes passos para as carreiras de Bertazzo e Ana.

Espectro

Questionado sobre a tensão de assinar um espetáculo após cerca de 30 trabalhos em que foi dirigido por nomes do porte de Marcelo Marcchioro, Edson Bueno, Felipe Hirsch e, nos últimos tempos, Paulo Biscaia Filho, Colombo contemporiza. "Peguei um pouco de cada um deles." Sobre o estilo adotado, parece até aliviado por não ter enveredado pela marca do mestre Biscaia, onde o grotesco é estilizado. Aqui, não: as veias estão abertas demais para isso.

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