A presidente Dilma Rousseff tem repetido que “uma crise é muito dolorosa para ser desperdiçada”, e que este é o momento “para construir soluções criativas e duradouras”. O que ela fez, desde o início do ano, foi lançar um pacote de estímulo ao crédito, insistir no retorno da CPMF, propor uma reforma da Previdência e apresentar uma reforma fiscal que começa por metas ainda mais brandas para as contas públicas.
Parte das medidas não têm nada de original ou permanente. Das propostas de caráter estrutural, a mudança nas regras para aposentadoria ganha elogios pela capacidade de resgatar alguma confiança no futuro das contas públicas e da economia. Mas não é consenso nem dentro do governo e, ainda que passe pelo Congresso, vai demorar anos a dar resultado. Na reforma fiscal, chama atenção o teto para os gastos. Mas ele também não valerá para este ano, e não se sabe qual será.
Economistas de vertentes opostas dizem que o curto prazo exige mais ousadia. De um lado, há quem pregue uma forte redução na taxa de juros, para derrubar os gastos com a dívida pública e estimular o crescimento. Opção que, argumentam seus defensores, animaria consumidores e empresários, ainda que deflagrasse uma disparada da inflação.
No outro extremo, a proposta é um corte brutal nos gastos públicos, algo que, embora muito impopular, seria capaz de alterar a trajetória assombrosa da dívida pública e segurar a alta de preços. Poucos ainda defendem uma alta nos juros, vista como pouco eficaz no cenário atual.
Para economistas ouvidos pela Gazeta do Povo, o que mais surpreende é o desinteresse do governo em tocar uma agenda muito menos custosa, e talvez a mais importante para o futuro da economia – a da melhoria do ambiente de negócios e do aumento da eficiência da economia. “É uma questão-chave, mas que não é colocada”, diz Marcelo Curado, professor de Economia da Universidade Federal do Paraná.