O setor de serviços já responde por 71% do PIB brasileiro. Para economias desenvolvidas, esse é um porcentual normal, sinal da transição para uma estrutura econômica pautada pelas atividades criativas, com concentração da manufatura apenas em itens de maior valor agregado. Não é o caso brasileiro. Sem a demanda de uma indústria de ponta, os serviços dominam o PIB sem gerar o mesmo valor que em países ricos.
Indústria e serviços vivem em simbiose. Não há como uma fábrica produzir sem contar com projetos de engenharia, transporte e comunicações. E quanto mais complexa a estrutura industrial de um país, mais sofisticada e densa a rede de fornecimento de serviços.
Em países avançados, uma parte significativa do valor agregado pela indústria vem dos serviços. Nos Estados Unidos, por exemplo, 22,2% do que é agregado pelo setor industrial vem dos serviços comprados pelas empresas. No Brasil, essa participação é de apenas 12,5%, um reflexo direto da baixa complexidade da cadeia produtiva.
“Nos EUA, os serviços se desenvolveram por demanda da indústria. Hoje, 70% da pesquisa em serviços é financiada pela indústria”, diz o economista Jorge Arbache, professor da Universidade de Brasília (UnB), um dos especialistas que vêm tentando desvendar as razões para a baixa demanda por serviços sofisticados, um fenômeno que torna o setor pouco produtivo no país.
Excesso de proteção
Uma das explicações é que a indústria brasileira cresceu em um modelo protegido, de substituição de importações. Levado por décadas, o sistema fez com que as empresas locais deixassem de brigar pelo mercado internacional e trabalhassem com menor absorção de tecnologia.
“Temos um setor de serviços hipertrofiado. Aqui, as empresas de telecom brigam mais pelo mercado do consumidor final. Nos EUA, esse mercado é só um complemento aos serviços prestados às empresas”, exemplifica Arbache.
O cenário de câmbio valorizado da última década dificultou ainda mais a relação entre indústria e serviços. Ao mesmo tempo em que perdia competitividade lá fora, o setor industrial viu os preços de serviços dispararem. Com serviços caros, muitas empresas preferem postergar investimentos e manter modelos produtivos antigos.
Dois mundos
O setor de serviços pode ser dividido em mundos diferentes. Há uma parcela que é formada por pequenas empresas que prestam serviços às famílias, com poucos funcionários sem muita qualificação. Nesse grupo, cada negócio gerava em média R$ 13,5 mil por mês em valor adicionado, em números de 2011. Cada funcionário agregava em média R$ 1,9 mil. Os serviços profissionais, em que entram aqueles prestados a empresas, tinham uma geração de R$ 48,8 mil por negócio e R$ 3,5 mil por funcionário, ao mês.
O crescimento do setor de serviços por demanda do consumidor final, portanto, é menos eficiente como ferramenta de desenvolvimento econômico. Desatar os nós que seguram o crescimento da indústria de ponta seria um começo para inverter o foco também no setor de serviços. “O sistema tributário brasileiro penaliza empresas com cadeias produtivas longas e a pouca concorrência em alguns setores mais protegidos distorce o incentivo para inovar”, explica o economista Luciano Nakabashi, professor da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto. E não são só as indústrias que sofrem com isso.