Grandes bancos privados estão reestruturando operações e produtos para adequá-los às particularidades do agronegócio e ganhar espaço em 2016 como financiadores do segmento que em 2015 foi um dos menos atingido pela crise econômica. O movimento também visa a competir mais diretamente com bancos públicos, que têm sido mais rigorosos na concessão de crédito e na atual safra 2015/16 aumentaram a fatia de financiamento a juros não controlados.
Executivos desses bancos avaliam que linhas mantidas com aportes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e com a destinação obrigatória de 34% dos depósitos à vista podem ser atingidas pelo cenário de crise. Além disso, há no mercado, de forma geral, a percepção de que o Banco do Brasil (BB), responsável por quase 60% do crédito rural do Plano Safra 2015/16, deve reduzir o montante oferecido. O BB financia o agronegócio com recursos da poupança, que também têm diminuído com o aumento dos saques de clientes interessados em aplicações mais rentáveis.
O Santander está adaptando seus produtos aos prazos e ciclos das cadeias produtivas agropecuárias e aumentando os recursos próprios que serão destinados ao setor. A estimativa é de que este montante cresça até 20% este ano na comparação com 2015. “Supondo que o meu depósito à vista não mude, o volume de recurso obrigatório não mudará. Então cresceremos até 20% em recursos do BNDES e recursos livres (captados pelo próprio Santander)”, disse ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, Carlos Aguiar, superintendente executivo do banco, responsável pelo agronegócio. De janeiro a abril deste ano, o montante pode chegar a aproximadamente R$ 1,2 bilhão. Some-se a isso os R$ 6,2 bilhões em recursos obrigatórios já ofertados em 2015 e que tendem a ser mantidos em 2016. O executivo não informou o volume exato de recursos próprios do banco. As taxas de juros, porém, não devem ser menores que 14,25% ao ano (Selic até dezembro).
O banco também vem avaliando formas de financiar máquinas agrícolas, hoje adquiridas majoritariamente por meio de linhas subsidiadas pelo BNDES. Uma das opções consideradas é adaptar as linhas de financiamento de veículos de passeio já oferecidas pelo Santander ao fluxo de caixa dos produtores agrícolas. Elas poderiam, por exemplo, ser amortizadas a cada seis meses, como já ocorre com o Moderfrota. “Estamos olhando para isso, até a pedido de alguns fabricantes de máquinas agrícolas”, explicou Aguiar.
O superintendente executivo de empréstimos e financiamentos do Bradesco, Rui Pereira Rosa, disse que o banco está preparado para ampliar os recursos próprios oferecidos ao setor à medida que os oficiais diminuírem. Em 2015, o Bradesco destinou cerca de R$ 21 bilhões para o agronegócio, incluindo recursos atrelados a depósitos obrigatórios, aportes do próprio banco e linhas do BNDES. Do total, 13% correspondem a recursos próprios do Bradesco, parcela que tende a aumentar em 2016.
“Se o depósito à vista cair, haverá menos recurso obrigatório. Nós não temos, necessariamente, um teto de recursos próprios a serem disponibilizados. Eu adoraria que a demanda fosse de R$ 10 bilhões. O banco está preparado para aplicar”, declarou. Na estimativa do executivo, os recursos próprios poderiam chegar a 20% da carteira do Bradesco neste ano.
Assim como o Santander, o Bradesco também considera a possibilidade de oferecer financiamentos para aquisição de máquinas agrícolas, ainda que trabalhe com a perspectiva de manutenção das vendas no mesmo nível de 2014. “Estamos preparados para, no caso de faltar (dinheiro do) BNDES, aportar recursos (para o segmento)”, complementou Rosa.
Banco tradicionalmente voltado ao financiamento de grandes produtores agrícolas, o Rabobank mantém a estratégia de se tornar o principal banco do agronegócio no mundo. A filial brasileira, hoje, é a terceira maior do Rabobank em âmbito global, atrás apenas das da Austrália e dos Estados Unidos. “Mas temos a maior probabilidade de crescimento nos próximos quatro a cinco anos, pois os outros mercados estão mais maduros que o do Brasil. O grupo reconhece isso e declarou apoio de capital”, afirmou a diretora executiva do banco, Fabiana Alves.
A contribuição do País para os resultados globais do Rabobank no segmento do agronegócio deve crescer entre 30% e 40% no período, nas previsões da executiva. Para 2016, a meta é aumentar no mínimo em 10% tanto o número de clientes quanto o volume de negócios em carteira. Em 2015, ficou próximo dos US$ 3 bilhões (estimativa em dezembro, antes da consolidação oficial dos resultados).
Se o agronegócio tende a encontrar mais alternativas para financiar suas operações, fontes do setor dizem ser inevitável que o custo do dinheiro oferecido pelo setor privado será maior do que o subsidiado pelo setor público. Mais ainda para produtores e empresas classificados por bancos como de alto risco.