Depois de trabalhar oito anos em uma agência de publicidade, Fernando Kanarski, de 31 anos, resolveu abandonar a carreira tradicional e virar profissional independente. Há um ano, ele presta serviços de marketing digital para pequenas e médias empresas brasileiras enquanto viaja por países como Namíbia, República Checa, Nova Zelândia e Vietnã. Trabalha, em média, seis horas por dia e passa o restante explorando os novos destinos. “Quero manter esse estilo de vida. Não penso em voltar a ter uma empresa com funcionários.”
Já a tradutora Maria Thereza Moss, de 28 anos, não viu vantagens na vida de funcionária com carteira assinada. Desde 2012, ela atende companhias americanas que precisam de tradução para o português de sites, plataformas e anúncios publicitários. O serviço é prestado de um escritório de coworking em Curitiba e todos os contatos com os clientes são feitos pela internet. “Quando eu trabalhava como funcionária, recebia bem menos”, diz a tradutora que também não pretende largar o estilo de vida autônomo.
Maria Thereza e Fernando Kanarski são exemplos de profissionais da chamada gig economy, tendência que ganha cada vez mais adeptos no mercado de trabalho. São pessoas qualificadas que, por opção própria, decidem fazer do trabalho independente sua principal fonte de renda.
Segundo pesquisa publicada neste mês pela consultoria McKinsey, há 49 milhões de pessoas nos Estados Unidos e em cinco países da Europa que atuam de maneira independente por escolha própria e fazem do trabalho autônomo a sua principal fonte de renda. Se incluir aqueles que também trabalham sozinhos, mas por necessidade ou apenas para complementar renda, são 162 milhões de pessoas.
No Brasil, não há dados oficiais que permitam verificar o impacto dessa tendência. O que se sabe é que há desde profissionais da economia criativa quanto de áreas tradicionais, como direito, engenharia e saúde. Normalmente, estão em busca de mais qualidade de vida e autonomia sobre suas carreiras.
A internet e as plataformas digitais, como o Uber e o Airbnb, impulsionaram o trabalho independente. As novas tecnologias possibilitam que o profissional encontre e seja encontrado por clientes de qualquer lugar do mundo e preste o serviço remotamente. Maria Thereza, por exemplo, usa sites internacionais específicos para freelancers de tradução para encontrar trabalho. Já Kanarski se reúne com o cliente pela primeira vez pessoalmente e, depois, presta o serviço remotamente enquanto viaja.
Para a consultoria McKinsey, as vantagens do número crescente de profissionais independentes são o aumento da força de trabalho e a maior disponibilidade de opções para consumidores e organizações. Os trabalhadores também ganham com mais flexibilidade e as empresas conseguem contratar funcionários para desenvolvimento de projetos curtos.
Mas o movimento ainda deve encontrar entraves para se consolidar no Brasil. Os principais são a falta de uma legislação específica para a categoria, o que diminui a segurança dos trabalhadores, e a adequação das formas de arrecadação do governo.