O dólar avançou pela quarta sessão consecutiva nesta segunda-feira (27) sobre o real, renovando a máxima de fechamento em mais de doze anos, pressionado pela apreensão dos investidores com as perspectivas fiscais do Brasil e pelo tombo da bolsa chinesa.
O dólar avançou 0,51%, a R$ 3,3640 na venda, maior nível de fechamento desde 27 de março de 2003, quando foi a R$ 3,386 na venda. Desde quarta-feira, acumula alta de 6,01%.
“Com a atividade ruim, a inflação alta e as mudanças nas metas fiscais, o Brasil está caminhando para uma crise de credibilidade”, afirmou o operador da corretora Correparti Ricardo Gomes da Silva Filho.
Meta fiscal
Na quarta-feira passada, o governo reduziu suas metas fiscais para este e os próximos dois anos, abrindo brecha inclusive para déficit primário em 2015. A decisão surpreendeu e decepcionou investidores, que entenderam a manobra como sinal de menor comprometimento com o reequilíbrio das contas públicas e temem que o Brasil possa vir a perder seu grau de investimento.
“A combinação de política monetária apertada e superávits primários modestos implica significativa deterioração das dinâmicas de dívida do Brasil”, escreveram analistas do JPMorgan em apresentação a clientes, estimando que a dívida bruta deve alcançar 70% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016.
“Esperamos que o país deve perder seu grau de investimento nos próximos anos, por pelo menos uma das três principais agências de rating”, acrescentaram, referindo-se à Moody’s, Fitch e Standard & Poor’s.
China
Nos mercados externos, o tombo de mais de 8% da bolsa chinesa, o maior desde 2007, trouxe de volta aos holofotes a desaceleração da segunda maior economia do mundo, importante parceiro comercial do Brasil. O dólar avançava em relação às principais moedas emergentes, como os pesos chileno e mexicano.
“A China é uma referência para quem investe em emergentes. Se a bolsa lá piora, o investidor também fica com um pé atrás para investir aqui”, disse o superintendente de câmbio da corretora Tov, Reginaldo Siaca.
Na máxima da sessão, a moeda norte-americana subiu 1,06%, a R$ 3,3825, maior nível intradia desde 31 de março de 2003, quando foi a R$ 3,3900. A divisa reduziu os ganhos ao longo do dia, com investidores ajustando suas carteiras após os avanços recentes, mas operadores ainda viam espaço para mais avanços.
“O dólar diminuiu as altas, mas é um movimento passageiro, um pequeno ajuste depois de altas relevantes nas últimas sessões. Particularmente, eu acredito que (a moeda norte-americana) rompe o patamar de R$ 3,40”, afirmou a operadora de um banco nacional, que pediu anonimato.
Swap
A perspectiva de mais altas do dólar renovou o foco nas intervenções do Banco Central no câmbio, uma vez que o fortalecimento da moeda norte-americana tende a pressionar a inflação ao encarecer importados. Operadores esperam sinalização sobre qual fatia dos swaps cambiais, equivalentes a venda futura de dólares, que vencem em setembro, será rolada.
Nesta manhã, o BC vendeu a oferta total no leilão de rolagem de swaps cambiais, que equivalem a venda futura de dólares. Com isso, já rolou o equivalente a US$ 5,390 bilhões, ou metade do lote que vence no início de agosto, que corresponde a US$ 10,675 bilhões.