Depois de seis altas seguidas, a taxa básica de juros alcançou na semana passada o maior nível desde o fim de 2008. E a maioria dos bancos e consultorias acredita que o Banco Central vai prosseguir com o aperto, levando a Selic além dos atuais 13,75% ao ano. Mas, para um número crescente de economistas, essa firmeza no combate à inflação – que contrasta com a condescendência do primeiro mandato de Dilma Rousseff – pode estar passando da conta.
Primeiro, porque o resultado é incerto. Mesmo que o juro chegue à casa dos 14%, muitos duvidam que o IPCA possa voltar à meta de 4,5% no ano que vem, conforme espera o BC – a última vez que o índice esteve nesse patamar foi em agosto de 2010. Segundo, porque a “pressa” em baixar a inflação pode estar impondo um sacrifício exagerado à já deprimida economia brasileira, com risco de estender a recessão para 2016.
Antes da última alta da Selic, economistas de bancos como o Bradesco e o Fator haviam defendido o fim da subida. Na quinta-feira (4), a consultoria britânica Capital Economics afirmou que se aproxima o momento em que os benefícios de novos aumentos da taxa serão menores que seus custos em termos de atividade econômica. Isso para não falar das contas públicas: o encarecimento da dívida vai consumir boa parte do dinheiro economizado com o ajuste fiscal.
Sem âncora
Desde a eleição presidencial, a Selic subiu de 11% para 13,75% ao ano. De lá para cá, o país entrou em recessão e o desemprego subiu de 6,8% para 8%. Todos os indicadores apontam para queda na demanda.
Mesmo assim, bancos e consultorias mantêm a aposta na inflação. A expectativa média para o IPCA em 2015, que era de 6,29% em setembro, agora está em 8,34%. E a perspectiva para 2016, antes em 5,5%, chegou a subir para 5,7% e semanas atrás retornou a 5,5% – um ponto acima do centro da meta, portanto. “Se o objetivo é ancorar as expectativas do mercado, o efeito da Selic tem sido muito lento, muito pequeno. Estamos pagando um preço alto pelo fato de a política monetária não ter sido bem calibrada lá atrás, quando o Banco Central baixou os juros mesmo com a inflação acima da meta”, diz Waldery Rodrigues Junior, professor do Ibmec/DF.
Credibilidade
“O Banco Central está atuando mais para tentar resgatar sua credibilidade junto aos agentes econômicos, porque no momento não há inflação de demanda a se combater”, avalia Pedro Jucá Maciel, assessor de assuntos econômicos do Senado.
Ele observa que, como a economia brasileira ainda é muito indexada, a inflação tem uma persistência muito grande. Muitos contratos são corrigidos por índices de preços, o que torna difícil a tarefa de baixar o IPCA de mais de 8% para menos de 5% de um ano para o outro. “Não é a circunstância ideal para tentar uma convergência rápida para o centro da meta”, diz.
O efeito de prolongar a alta dos juros pode ser muito perverso para o futuro da economia. Uma alteração na Selic demora de dois a três trimestres para chegar à atividade. Ou seja, estamos sentindo agora os impactos das altas de dois ou três trimestres atrás, e ainda sentiremos os efeitos dos aumentos mais recentes.
Para o economista Pedro Paulo Silveira, da TOV Corretora, “no mundo real a credibilidade buscada pelo Banco Central não serve para absolutamente nada” e a alta dos juros agora “não é apenas desnecessária, como nociva”. “No momento em que há um esforço fiscal para baixar a relação entre a dívida pública e o PIB, o que fica mais difícil com a recessão, o Banco Central aumenta o custo da dívida exorbitantemente e joga ainda mais para baixo o PIB, piorando ainda mais essa relação”, aponta.
Quase 70% da inflação dos últimos 12 meses é resultado da seca, com efeitos sobre alimentos e energia elétrica, e da desvalorização cambial. Faria sentido que o Banco Central atuasse para esfriar a economia e evitar que esses choques se propagassem para outros produtos e serviços. Ocorre que a economia brasileira já está hiperfria.