Depois de ser considerada uma das cidades mais verdes do país e de ser modelo em transporte público, a prefeitura quer transformar Curitiba em referência em inovação. Com o projeto chamado Vale do Pinhão, o poder público quer fazer com que universidades, investidores, grandes empresas e startups atuem em conjunto para fortalecer o desenvolvimento de negócios inovadores na capital, principalmente na área da economia criativa.
- INFOGRÁFICO - veja o mapa prévio de como será o Vale do Pinhão
O nome do projeto é uma alusão ao Vale do Silício, região no estado da Califórnia, nos Estados Unidos, que é sede da Universidade de Stanford e de empresas como Google, Facebook e Apple. O local é considerado a principal referência em empreendedorismo inovador, pois foi de lá que saiu grande parte dos maiores negócios dos Estados Unidos nos últimos 50 anos. Hoje, reúne também algumas das maiores incubadoras, aceleradoras e fundos de investimento.
Em Curitiba, a prefeitura quer replicar o modelo. Para isso, escolheu o bairro Rebouças para puxar o desenvolvimento do Vale do Pinhão. O antigo Moinhos Rebouças, que hoje está com uma torre desativada e o outra sendo utilizado pela Fundação Cultural de Curitiba, será transformado em Engenho da Inovação ao longo deste ano. O espaço tem 1,6 mil m².
O local será o prédio central do Vale do Pinhão e vai concentrar eventos culturais e empresariais. Também terá espaço de coworking, ou seja, escritório compartilhado, e uma incubadora, local para desenvolvimento de novos negócios que envolvam tecnologia e que possui supervisão de instituições de ensino. Há, ainda, a intenção de que grandes empresas instalem seus centros de pesquisa e desenvolvimento (P&D) no local.
Concentração geográfica
Com a previsão de ter o Engenho da Inovação funcionando a partir de 2018, a prefeitura quer que o local puxe a atração de empresas para a região do Rebouças, principalmente na antiga área industrial, que está com vários imóveis vazios. O município deve conceder incentivos territoriais e fiscais para facilitar a atração. O foco são as startups.
Com isso, teríamos no bairro Rebouças - assim como no Vale do Silício - uma região que concentraria pesquisadores, empreendedores e empresas com foco em desenvolver soluções inovadoras.
Interligado à cidade
Mas o Vale do Pinhão não será limitado ao Rebouças. A ideia é interligar o bairro às demais instituições que são fundamentais para conhecimento e pesquisa, caso das universidades, e para apoiar o desenvolvimento das empresas já em funcionamento, como Sebrae, Federação das Indústrias, Federação do Comércio e Associação Comercial do estado. Serão criadas ciclovias (onde não existe) para facilitar o acesso a cada local e há a intenção de colocar carros elétricos em circulação, como já acontece no Porto Digital, em Recife.
O Parque Barigui, a Linha Verde e as Ruas da Cidadania também devem compor o projeto. Parte do centro de evento do parque vai virar um espaço público de coworking. A previsão é que em cerca de 90 dias saia o primeiro edital público para quem quer usar as instalações para trabalhar. Já as Salas do Empreendedor, nas Ruas da Cidadania, vão orientar os empreendedores do bairro a como se tornar mais inovador. Para a Linha Verde, a ideia é fomentar a instalação de grandes empresas.
O projeto, uma promessa de campanha do prefeito Rafael Greca, é de longo prazo e a prefeitura evita detalhar todos os prazos. “O ritmo quem dá é o próprio cidadão”, afirma Tiago Francisco da Silva, presidente da Agência Curitiba de Inovação e Tecnologia, quem coordena o projeto. Os recursos para tirá-lo do papel virão do BNDES e da parceria público-privada.
Cultura empreendedora
A ideia de criar o Vale do Pinhão em Curitiba surgiu da percepção que cidade já possui uma série de pessoas e atores envolvidos com estímulo à inovação e ao empreendedorismo, mas que não conversam entre si. A prefeitura viria, justamente, para suprir essa lacuna e fazer com que todos possam unir suas forças para desenvolver empresas mais inovadoras.
“O objetivo é colocar a cultura de inovação na cidade. O perfil de Curitiba é esperar acontecer. É preciso despertar a inovação desde as grandes até as pequenas empresas”, afirma Tiago Francisco da Silva, presidente da Agência Curitiba de Inovação e Tecnologia.
Entraves
Mas, para que o projeto tenha sucesso, será necessário melhorar o ambiente regulatório e a percepção do empreendedorismo na cidade. Segundo pesquisa realizada pela Endeavor, Curitiba tem o segundo pior ambiente regulatório entre os 32 municípios avaliados. Isso significa que, de acordo com a pesquisa, a capital paranaense tem um dos maiores custos de impostos, complexidade tributária e burocracia para abrir uma empresa.
Curitiba também enfrenta o desafio de ser, na pesquisa da Endeavor, a segunda cidade com a pior percepção sobre empreendedorismo. Por aqui, os moradores pouco concordam que o desenvolvimento do país depende dos empreendedores. A pesquisa também mostra que a cidade tem pouco potencial para se empreender com alto impacto.