Na última década, o empresário brasileiro vem, aos poucos, deixando o conservadorismo de lado para procurar novas alternativas de financiamento. E entre eles estão o Venture Capital (VC) e o Private Equity (PE), modalidades feitas por meio de gestores de investimentos que contribuem para viabilizar negócios de startups e de pequenas e médias empresas, que precisam de aportes que vão dos R$ 10 milhões aos R$ 200 milhões, em média.
De acordo com a Associação Brasileira de Venture Capital e Private Equity (ABVCAP), o capital disponível para investimento no país cresceu 35,4% de 2013 para 2014, o que representou um salto de R$ 27,2 bilhões para R$ 36,8 bilhões.
O conselheiro da ABVCAP Humberto Matsuda avalia que entre as razões para a popularização desta modalidade de investimento estão a estabilização do real nos últimos dez anos e a melhor percepção que os investidores internacionais passaram a ter em relação ao Brasil. Dados preliminares da associação apontam que no ano passado a participação estrangeira foi de 55%, sendo os fundos de pensão alguns dos seus financiadores mais representativos.
O sócio da gestora CRP, João Marcelo Eboli, no entanto, considera que instituições de fomento brasileiras, principalmente a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES), também foram responsáveis pelo crescimento desse capital de risco. “A indústria de Private Equity e de Venture Capital cresceu quando novos gestores apareceram, e a Finep e o BNDES tiveram um papel muito importante para o fomento da área”, afirma Eboli.
A CRP atua há 35 anos na região Sul e a foi responsável pelos primeiros investimentos na provedora de internet Nutecnet, do Rio Grande do Sul. Anos depois, a empresa foi vendida para o Grupo RBS e rebatizada de ZAZ, até ser vendida para a Telefónica e dar origem ao Portal Terra.
Vendas e IPOs
As gestoras de PE e VC são responsáveis por viabilizar o capital para financiar negócios por períodos de cinco a dez anos. Os fundos podem entrar com participações minoritárias, majoritárias ou totalitárias, se tornando sócias e implantando práticas de governança corporativa. Após esse período, as gestoras podem vender as empresas – o que é o mais comum no Brasil – ou fazer ofertas públicas iniciais (IPOs) na Bolsa para viabilizar os investimentos.
Segundo o sócio da CRP, porém, esta última opção é menos recorrente no país, devido à retração que o mercado de ofertas públicas apresenta nos últimos anos e pela dificuldade de absorção. “Esse seria o melhor dos mundos para nós, porque quando se faz uma boa saída via mercado, a tendência é que o retorno seja potencializado. O preço pago pelo negócio costuma ser maior que as outras alternativas e, além disso, permite que posições minoritárias comprem o controle da empresa”, considera.
Mas mesmo com o crescimento do setor observado no Brasil, os gestores afirmam que o conservadorismo local é responsável por barrar uma maior evolução do segmento. “O empresário brasileiro é muito patrimonialista. Muitos acham que as empresas devem ser passadas de geração em geração. Não há um conceito de criar um negócio, fazê-lo crescer e gerar novos negócios. Mas isso tem mudado ultimamente”, avalia o socio-fundador do Plancorp Merchant Bank, Juarez Seleme.