Os investimentos feitos pelas empresas para produzir mais, medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), estão em queda desde o segundo trimestre de 2012. E, depois de sete recuos trimestrais, as perspectivas para o investimento produtivo – considerado o “fermento” do crescimento econômico – continuam ruins, já que os índices que refletem a confiança no futuro e a intenção na retomada dos gastos dos empresários também estão caindo.
De janeiro a março a FBCF caiu 1,3% em relação ao trimestre anterior e 7,8% na comparação com o mesmo período de 2014. A FBCF avalia quanto governo e iniciativa privada destinaram à aquisição de bens de capital, ou seja, aqueles que servem para produzir ou transportar outros bens.
No ano passado, a taxa de investimento ficou em 19,7% do PIB, abaixo dos 20,5% de 2013. O ideal para uma economia com crescimento sustentável é um índice perto de 25%.
As baixas do investimento produtivo são explicadas pela perda de credibilidade do governo federal, causada pelas decisões tomadas no primeiro mandato de Dilma Rousseff, que levaram ao afastamento do tripé macroeconômico (regime de metas de inflação, fiscais e câmbio flutuante) .
Com a inflação se distanciando da meta de 4,5%, o Banco Central passou aos empresários a impressão de que havia deixado de perseguir a meta e sinalizou que teria adotado o teto de 6,5% como a taxa a ser buscada .
Outro ponto que agravou a situação está relacionado à política fiscal de Dilma. “O governo usou instrumentos fiscais para estimular a demanda, dobrando a aposta que havia sido feita no auge da crise. Esses estímulos comprometeram a saúde das contas públicas e, no ano passado, houve uma deterioração muito grande do quadro fiscal. O governo inflou receitas e subestimou despesas”, diz Alexandre Andrade, economista da GO Associados.
A sustentação artificial da moeda brasileira, para tentar segurar uma inflação que já se mostrava fora de controle no ano passado, acabou por favorecer a importação e encarecer a produção nacional, desestimulando ainda mais os investimentos privados.
“Isso teve como consequência direta a perda de competitividade. Os produtos brasileiros ficaram ainda mais caros e feitos em condições mais desfavoráveis”, explica Carlos Tortelli, sócio da Consult.
As expectativas dos empresários industriais, medidas pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), também estão em baixa e mostram que os próximos seis meses ainda serão de retração nos gastos. A sondagem industrial de maio apontou que o índice de intenção de investimento caiu para 44,2 pontos. Apenas este ano, a taxa já recuou 8,2 pontos.
A intenção de investimento dos empresários é medida dentro de uma variação de 0 a 100 pontos. Quanto maior o índice, maior é a propensão da indústria em investir. Quando a taxa se mantém abaixo da linha dos 50 pontos é sinal de pessimismo com o futuro. Os economistas acreditam que o movimento necessário para que os investimentos privados voltem a crescer já está sendo feito: ajuste fiscal aliado à retomada do tripé macroeconômico. “Esses episódios do primeiro mandato não podem ser repetidos. O primeiro passo para a volta dos investimentos é mostrar que está comprometido com o controle da inflação e das finanças públicas”, afirma Alexandre Andrade, da GO Associados. Deixar as condições econômicas favoráveis para os negócios, com menor interferência no sistema de preços e melhor ambiente regulatório, também são apontados como essenciais para a retomada da confiança e aumento do investimento produtivo. “O governo está caminhando para isto. Há uma determinação por força de pressão internacional para que as regras sejam modernizadas. A implementação do ajuste pelo ministro Joaquim Levy está dando segurança. A única incerteza que vejo agora está na queda de braço com o Congresso”, afirma Carlos Tortelli, da Consult. Apesar da direção, os especialistas consideram que o ambiente só estará mais favorável aos investimentos da iniciativa privada a partir de 2016. (TBV) Governo está no caminho, mas investimentos só devem voltar em 2016