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Comércio exterior

Mais baratos, peixes asiáticos ganham mercado no Brasil

 | Ilustração: Felipe Lima
Juarez Gerhardt: panga e linguado são diferentes |

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Juarez Gerhardt: panga e linguado são diferentes

Os peixes asiáticos, em especial da China e do Vietnã, estão cada vez mais presentes na mesa do consumidor brasileiro. E não é de hoje. Nos últimos cinco anos, a importação de pescados – incluindo frutos do mar – cresceu 66%, passando de 230 mil toneladas em 2009 para 383 mil toneladas em 2013, em um negócio que movimenta cerca de US$ 1,3 bilhão por ano. A maior parte dessa expansão é resultado da entrada de peixes asiáticos congelados superbaratos, como o panga e a merluza, vendida no Brasil como "polaca do Alasca". Para este ano, a tendência é de alta nas importações. Só nos primeiros quatro meses de 2014 houve um aumento de 20% na entrada de peixes chineses e vietnamitas.

INFOGRÁFICO: Veja dados sobre a exportação do pescado para o Brasil

Em 2013, foram importadas 92 mil toneladas de pescado chinês, 12 vezes mais do que as 7,2 mil toneladas de 2009. No mesmo período, as importações de pescado do Vietnã saltaram de 3,2 mil para 54 mil toneladas. Em 2010, a China e o Vietnã, somados, ultrapassaram o Chile como principal fornecedor de pescados para o Brasil.

A invasão dos peixes asiáticos criou um impasse entre produtores nacionais e importadores. Para os produtores, o preço extremamente baixo dos pescados seria reflexo da baixa qualidade do produto, que já chega industrializado e entra no Brasil pagando um imposto mínimo se comparado à carga tributária brasileira.

"Fizemos testes que mostraram grande quantidade de tripolifosfato, substância que aumenta a absorção de água e sódio nos peixes", acusa Giovani Monteiro, presidente do Sindicato dos Armadores e das Indústrias de Pesca de Itajaí e Região (Sindipi), em Santa Catarina. Os importadores negam problemas de qualidade e garantem que seguem todos os procedimentos exigidos pelas autoridades brasileiras.

O responsável pela cadeia de Aquicultura e Pesca da Emater, Luiz Danilo Muehlmann, diz que é impossível competir em preço com os peixes asiáticos. O custo de produção da tilápia, por exemplo, oscila entre R$ 2,80 e R$ 3, mas o aproveitamento é baixo. São necessários três quilos de peixe para produzir um quilo de filé. "Na conta final, somando custos e encargos, a tilápia não chega ao mercado por menos de R$ 20 o quilo". Enquanto isso, o panga e a polaca do Alasca congelados são encontrados por menos de R$ 10 o quilo nos supermercados. "A competição é desigual", diz Monteiro.

A justificativa para um preço tão baixo está na indústria asiática, que trabalha focada na produção em grande escala e com baixo custo de mão de obra. "Isso torna a China a maior processadora de pescado do mundo, apesar de não ter barcos de captura. O mundo inteiro pesca e envia para processar na China", explica Diego Fávero, diretor de Logística do Grupo 5 Business Solutions, especializado no mercado de frutos do mar. O Vietnã, por sua vez, trocou a pesca de captura pela aquicultura e estruturou a indústria para atender ao padrão demandado pelo mercado mundial em escala: um filé branco e sem espinhas.

Panga é alvo de campanha difamatória

A invasão dos pescados asiáticos desencadeou uma campanha difamatória contra o peixe panga. Criado no Rio Mekong, no Vietnã, o panga começou a ser importado em 2009. Desde então, multiplicaram-se as informações de que ele seria criado no esgoto e, portanto, estaria contaminado por bactérias e até por metais pesados despejados pelas indústrias no rio – uma amostra de como a entrada do produto no Brasil desagradou aos produtores locais.

A má fama do peixe ganhou tamanha proporção que motivou duas missões sanitárias do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) ao Vietnã para verificar a cadeia de produção do panga – a primeira viagem foi realizada no final de 2009 e a outra em março deste ano. Segundo o Mapa, inicialmente foram solicitadas algumas adequações de praxe, mas hoje todas as exigências para a exportação são atendidas pelo Vietnã.

Mesmo com o aval do ministério, que garante que o peixe é bom para o consumo, ainda há muita desconfiança por parte dos consumidores, o que tem dificultado a consolidação do panga no mercado brasileiro. Até a Proteste, órgão de defesa do consumidor, testou diferentes marcas do panga vendidas no Brasil e atestou que se trata de um peixe bom para o consumo.

Outra acusação é a de fraude envolvendo o panga. No mês passado, sete empresas localizadas em Itajaí, Navegantes e Itapema foram alvo da Operação Poseidon, da Polícia Federal, de combate à venda de peixes de menor valor comercial no lugar de espécies mais caras.

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