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O carro do futuro da Nissan vai ler os pensamentos do motorista

Protótipo da touca que lê ondas cerebrais do motorista. | Nissan/Divulgação
Protótipo da touca que lê ondas cerebrais do motorista. (Foto: Nissan/Divulgação)

As maiores montadoras de automóveis e empresas de tecnologia do mundo estão gastando bilhões de dólares para aperfeiçoar sua capacidade de dirigir sem pensar. A Nissan está tomando uma direção diferente — tentando “decodificar” seu pensamento, de modo a tornar a direção com as mãos mais divertida.

A empresa japonesa apresentará e testará sua tecnologia “brain-to-vehicle” (“B2V”, ou “cérebro para veículo” em português) na Consumer Electronics Show (CES), em Las Vegas, feira anual de tecnologia que começa no próximo dia 9 de janeiro. O sistema “B2V” exige que um motorista use uma espécie de touca ou capacete que mede a atividade das ondas cerebrais e transmite as leituras aos sistemas de direção, aceleração e frenagem que podem começar a responder antes de o motorista agir.

O motorista ainda gira o volante ou pisa no acelerador, mas o carro antecipa esses movimentos e começa as ações de 0,2 a 0,5 segundo antes, disse Lucian Gheorghe, pesquisador sênior em inovação da Nissan e responsável por supervisionar o projeto. A resposta antecipada deve ser imperceptível para os motoristas, explica.

“Imaginamos um futuro em que a condução manual ainda é um valor da sociedade”, disse Gheorghe, de 40 anos, que obteve um doutorado em tecnologia neural aplicada. “O prazer de dirigir é algo que, como seres humanos, não devemos perder”.

As montadoras de automóveis estão trabalhando em maneiras de manter a condução relevante na medida em que recém-chegados, como a Waymo da Alphabet, holding do Google, e a Apple, tentam aprimorar a indústria com tecnologias totalmente autônomas. A consultoria IHS Markit espera que 21 milhões de veículos autônomos sejam vendidos anualmente em 2035 — o equivalente a cerca de um quarto de todas as vendas atuais de veículos.

Muitas montadoras, incluindo a Toyota e a BMW, dizem que não darão controle total aos computadores e planejam continuar a montar carros com características de condução distintas.

A Nissan, baseada em Yokohama e fabricante do veículo elétrico Leaf, planeja introduzir carros totalmente autônomos em 2022. Além de prever os movimentos dos motoristas, o capacete também poderá detectar preferências e desconfortos do motorista quando o veículo estiver em modo autônomo, levando os sistemas a se ajustarem de acordo.

Ainda assim, condutores de veículos autónomos ainda poderão virar uma chave e controlar manualmente o automóvel. É aí que entra em jogo o sistema B2V da Nissan.

“Você se sente ou como um motorista melhor ou que o carro está mais esportivo, responsivo”, disse Gheorghe, que usa ele próprio o sistema por 15 minutos todos os dias indo ao trabalho.

Prazer de dirigir

A tecnologia, que a Nissan diz ser exclusiva, será incluída em carros totalmente autônomos e deve estar pronta em cinco a 10 anos, disse a empresa. O protótipo se assemelha a uma touca com fios saindo do topo.

Os monitores de ondas cerebrais também estão sendo usados pela BHP Billiton, a maior empresa de mineração do mundo, para verificar se seus motoristas de caminhão estão cansados. A empresa australiana usa uma tira de 15 cm instalada dentro de bonés e capacetes.

A motivação de Gheorghe vem do prazer que ele experimentou aos 18 anos, depois que seu pai lhe comprou um Fairlady Z da Nissan. “Há muitas maneiras pelas quais você pode contribuir para a sociedade — eu escolhi essa”, disse Gheorghe, que trabalha na Nissan há 12 anos.

Ele afirma que o dispositivo não lê a mente do motorista. Em vez disso, ele detecta e depois decodifica a atividade cerebral que ocorre cerca de dois segundos antes de um movimento voluntário. “Não se trata de ler pensamentos”, disse ele. “Mas, antes de mover seu corpo, sabemos que você irá movê-lo”.

A Nissan demonstrará a tecnologia na CES usando o seu conceito de carro elétrico IMx, que Gheorghe disse que está “preparado para conectividade com o cérebro”. O público poderá simular a direção em uma estrada por alguns minutos e o carro deve fazer os ajustes em tempo real.

As montadoras de automóveis têm comparecido na CES nos últimos anos para demonstrar suas tecnologias mais avançadas em inteligência artificial e carros inteligentes. No ano passado, a Toyota apresentou um conceito que pode sentir sua emoção e a Daimler AG exibiu uma van elétrica com um drone em cima que automaticamente busca e entrega pacotes.

A Nissan, que gastou cerca de 490 bilhões de ienes (US$ 4,4 bilhões), ou 4,2% de sua receita em pesquisa e desenvolvimento no ano fiscal de 2016, é mais agressiva do que a Toyota e a Honda ao estabelecer prazos para veículos autônomos.

A Nissan planeja permitir que os carros troquem de pista nas rodovias de forma autônoma já em 2018 e que transitem por estradas e interseções sem interferência humana até 2020. “Mesmo na direção autônoma, não estamos construindo caixas nas quais você está dormindo”, disse Gheorghe. “Estamos construindo um veículo de entrega de experiências positivas”.

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