A imagem é um meio de comunicação poderoso e, seja no ambiente corporativo ou social, todos estão sujeitos a julgamentos. A aparência pode ser vista também como uma ferramenta para expressar de forma consciente a imagem que se deseja transmitir.
Antes considerada um tabu no mercado de trabalho, a tatuagem é cada vez mais aceita nas corporações. Mas em um período de transição de cultura organizacional e social mais tradicional para outra mais aberta e democrática, muitas organizações ainda resistem às tatuagens e geram dúvidas nos profissionais quanto à sua aceitação.
Segundo Renata Migliocca, diretora de inovação da DMRH, especializada em recursos humanos, nas áreas com profissionais mais jovens e de economia criativa, ter o corpo tatuado é quase uma unanimidade, e pode contribuir para a imagem de criatividade e inovação dos colaboradores em empresas de publicidade, design e tecnologia. “Os postos voltados para atendimento ao público são os mais críticos em relação à aceitação das tatuagens e piercings porque a aparência vai além da cultura da empresa e inclui a necessidade do profissional também ser aceito pelos clientes”, diz.
A consultora de imagem Cris Bemvenutti lembra que a aparência do profissional é automaticamente associada à empresa onde trabalha, por isso considera a tatuagem como um risco para a adequação do profissional, dependendo de sua área de atuação ou ambições na carreira. “Quando você trabalha, o nome da empresa se torna seu sobrenome, e a forma como você se apresenta precisa ser coerente com os valores da companhia”, diz a consultora. Segundo ela, o ambiente corporativo vem mudando, mas muitos jovens perdem oportunidades por estarem usando a imagem de maneira errada. “Todo e qualquer talento se beneficia de uma boa imagem.”
Resistência
Profissional da área de Tecnologia da Informação, Olavo Biffi é fã de rock, tem duas tatuagens grandes, no braço e nas costelas, e usava piercings e cabelos compridos, no estilo metaleiro. Quando, há cinco anos, começou a prestar consultoria para grandes bancos, em contato direto com executivos, sentiu que sua aparência estava freando sua ascensão profissional. “Dificilmente alguém falava, a não ser em conversas informais, mas o impacto era visível no olhar das pessoas”, diz.
Em algumas ocasiões, ao sair de uma reunião, os clientes ligavam para sua chefe para saber quem era o rapaz ou comentar sobre sua aparência. “Um dia estávamos em consultoria em um banco muito conservador e, antes de entrar na reunião, um dos gerentes disse que seria melhor eu esperar fora”, lembra. Essa e outras ocasiões fizeram com que cortasse os cabelos e passasse a esconder a tatuagem no braço quando julgava necessário. A diferença foi imediata.
A explicação para a resistência dos mais conservadores às marcações na pele está na associação a rebeldia e indisciplina, herança de gerações anteriores. “A empresa julga que é uma pessoa de mais personalidade, que tende a quebrar as regras, qualidade desejável para as mais inovadoras e não tanto para as tradicionais”, explica a gerente de recrutamento e seleção da RH Center, Mariângela Bello.
Apesar das dificuldades que teve, Biffi conta que procurou sempre levar sua personalidade para o ambiente de trabalho, inclusive mostrando as tatuagens em momentos mais rotineiros, e acredita que isso contribuiu para seu crescimento na carreira. “Recomendo pensar bastante antes de fazer uma tatuagem, mas é importante não deixar o meio de trabalho influenciar a sua personalidade. Sempre mostrei quem eu era e isso me ajudou a chegar aonde cheguei”, diz. Ele conta que as reações negativas eram amenizadas assim que ele demonstrava sua qualificação e conhecimento da área.