O aumento da demanda por transportes com a supersafra e a entrada em vigor da Lei do Descanso elevou o déficit de caminheiros no Brasil a 160 mil profissionais. Com os veículos parados em seus pátios, as empresas transportadoras encontram dificuldades para repor a mão de obra. A categoria, por outro lado, alega insegurança e baixo reajuste salarial para a falta de interesse pela profissão.
De acordo com a NTC&Logística, associação do setor, o déficit de mão de obra é anterior à lei. Antes mesmo da nova regra, já faltavam cerca de 120 mil profissionais para dar conta de todas as entregas.
Com a lei, que estipulou períodos mínimos de intervalo durante a jornada e folgas semanais, a situação se agravou. "O problema não é de hoje e, com a nova lei, ficou ainda mais complicado suprir a demanda", afirma o superintendente do Sindicato das Empresas Transportadoras do Paraná (Setcepar), Luiz Carlos Podzwato.
Ele explica que as empresas deixaram de assumir novos contratos ou prolongaram o tempo do frete, por não terem como atender o aumento do serviço. Uma entrega de São Paulo para Curitiba, que demorava um dia, hoje leva até três para chegar ao destino a carga fica até 48 horas parada, à espera de um caminhão livre.
Para amenizar a situação, o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat) lançou um programa de formação de novos motoristas com o objetivo de capacitar 66 mil novos caminhoneiros, mas encontra dificuldades para encontrar interessados. "Existem cursos de capacitação, mas não existe procura", afirma Podzwato.
Em baixa
O diretor da Cooperativa Paranaense de Motoristas Autônomos, Aurélio Rodrigues, afirma que os reajustes salariais não atraem novos motoristas. "Ano passado, enquanto todas as categorias bateram recordes de reajuste, o aumento real dos motoristas foi de 2%", explica Rodrigues, que também atribui aos riscos da profissão para justificar a debandada. "As estradas estão sobrecarregadas e em péssimas condições. É um trabalho arriscado", completa.
O superintendente do Setcepar discorda em parte. Ele alega que em 2011 o aumento foi de 12% e o salário médio varia de R$ 3 mil a R$ 5 mil, além das diárias. "Há uma crise da mão de obra em todos os setores, mas no caso das estradas existe um fenômeno cultural. Ninguém quer passar dias longe da família. A faixa etária dos caminhoneiros é cada vez maior", explica.
Os clientes das transportadoras também já sentiram a escassez de profissionais. "Seja pela falta de motoristas ou pelos gargalos logísticos, este modal não dá mais conta da demanda. É preciso variar", afirma o consultor em logística da Federação das Indústrias do Estado do Paraná, Mário Stamm.