A primeira fase da educação tem papel decisivo na formação dos estudantes: um ensino infantil de qualidade pode ser o diferencial para uma melhor formação intelectual, social e profissional. E, nesse quesito, o Brasil vai mal.
Com modelos de referência, Finlândia, Suécia e Hungria apresentam inovações que poderiam ser adotadas no sistema brasileiro sem grandes investimentos adicionais. Além disso, países como Rússia e Singapura encontraram soluções dentro de suas peculiaridades e limitações.
Confira cinco exemplos que podem servir de inspiração para a a educação infantil brasileira:
Finlândia: brincadeiras e preparação para o próximo passo
O sistema educacional finlandês é destaque mundial por colocar seus alunos no topo de rankings de desempenho. Mas a base para a educação acadêmica, que começa aos sete anos de idade, está nas creches e pré-escolas gratuitas e integrais.
A partir dos oito meses, as crianças finlandesas têm acesso universal à educação infantil. O modelo implementado na década de 1990 é baseado no conceito de que toda criança tem direito a aprendizado e socialização desde a primeira infância.
Nas creches e pré-escolas finlandesas, a maior parte do tempo é passada nos playgrounds: o modelo parte do uso de jogos e brincadeiras como ferramentas de ensino. Enquanto brincam e socializam, as crianças desenvolvem competências de linguagem e matemática, além de habilidades de interação social.
O currículo das pré-escolas também segue uma estrutura própria, sem delimitações específicas para aulas diárias. O foco está em um cronograma semanal de atividades como jogos, corrida, exploração, artesanato e atividades musicais. O resultado, ao final do ciclo, são crianças mais preparadas cognitivamente para o que as espera na escola primária.
Hungria: avaliações periódicas
Com educação pública obrigatória dos 5 aos 19 anos, as crianças húngaras têm acesso ao ensino formal desde a primeira infância. No país, a fase inicial é dividida entre creches, que atendem de recém-nascidos a crianças de 3 anos, e escolas de educação infantil, para crianças de até 7 anos. A educação pública começa na segunda fase, com as escolas de educação infantil.
O governo húngaro dispõe de pré-escolas públicas e gratuitas para crianças a partir de três anos, com o ensino obrigatório a partir dos cinco anos de idade – essa faixa etária corresponde a pelo menos 90% dos alunos matriculados em pré-escolas. Nessa fase, as crianças desenvolvem habilidades iniciais para prepará-las para o ensino primário.
Um dos diferenciais do ensino húngaro está na avaliação das crianças ao final da fase pré-escolar: tradicionalmente, as crianças completam essa fase aos seis anos, mas a aprovação não á garantida. Ao final do ciclo, são analisados o desenvolvimento e o a maturidade do aluno; caso a criança não esteja preparada para o ensino primário, ela permanece na pré-escola por mais um ano.
Rússia: apoio ao homeschooling
A educação infantil pública, gratuita e não obrigatória na Rússia é implementada tanto em pré-escolas quanto no ambiente doméstico. Neste caso, ele pode ser organizado tanto na residência da família quanto em grupos privados que oferecem estruturas de homeschooling.
Nas pré-escolas, são aceitas crianças a partir de dois meses de idade. Entretanto, a maioria dos programas começa aos 18 meses, idade padrão para o sistema público pré-escolar. Isso acontece porque a legislação do país permite que as mulheres tirem 1,5 anos de licença maternidade remunerada, com a possibilidade de outro 1,5 anos sem remuneração.
Focadas no desenvolvimento de habilidades sociais, físicas e intelectuais de matemática, linguagem e pré-leitura, as pré-escolas públicas são integrais e atendem crianças de até sete anos de idade. Ao final desse ciclo, elas podem entrar no ensino primário, de acordo com o desenvolvimento de cada criança.
Singapura: diversidade em foco
No país asiático a educação infantil é ofertada para crianças a partir de 18 meses, mas o modelo de pré-escola é estruturado como um programa de três anos, para crianças com idades entre 4 e 6 anos.
Um dos diferenciais é o foco na diversidade: em um país formado por uma população multicultural em que vários idiomas são falados, as instituições de educação infantil são espaços em que as crianças podem socializar desde cedo com indivíduos de culturas e línguas diferentes. Além do desenvolvimento de habilidades sociais, são trabalhadas competências de pré-leitura e matemática.
As pré-escolas são privadas e todas ofertam ensino integral. Nas creches que atendem a primeira fase da educação infantil, dos 18 meses aos 4 anos, o governo oferece subsídios para as crianças de famílias de baixa renda. Nas pré-escolas, a fase seguinte, não há subsídios, mas também são ofertadas oportunidades de assistência financeira.
Suécia: respeito às crianças
O sistema de educação infantil sueco, chamado Educare, é construído a partir da ideia de respeito às crianças como seres humanos completos. A noção vai de encontro a teorias de desenvolvimento que defendem que os indivíduos só se tornam plenos após a formação que ocorre na infância – são essas teorias que dão o tom de grande parte dos sistemas educacionais ocidentais.
Na prática, o sistema parte da proteção dos direitos humanos das crianças para a oferta da melhor educação e cuidado possível para cada uma. Para isso, são oferecidas pré-escolas acessíveis, com infraestrutura de ponta e professores qualificados, além de centros de recreação extraclasse que funcionam durante todos os dias do ano.
O currículo da educação infantil, estruturado de modo oficial pela primeira vez em 1998, não estabelece parâmetros específicos que as crianças devem atingir a cada idade. Em vez de marcações de tempo, são lançados objetivos norteadores do desenvolvimento.
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