Erros e acertos em sala de aula não precisam ser guardados a sete chaves. Expor a própria aula para a avaliação de colegas e, em alguns casos, da família dos alunos, pode ser a solução para melhorar a performance como educador. O sistema de mentoria, pelo qual o desempenho dos professores é acompanhada de perto pelas instituições, não é realidade para a ampla maioria da rede de ensino no Brasil (veja exemplos abaixo ), mas pode ser uma etapa valiosa para a formação continuada dos mestres.
A figura do pedagogo, que, no dia a dia das escolas é disputadíssima, seria responsável, a princípio, por orientar os professores. Na realidade do ensino municipal de Curitiba, por exemplo, os professores têm 1/3 de sua carga horária semanal reservada para planejamento de aulas. “Mas eles acabam não tendo essa prática de de discutir com os colegas, com um planejamento coletivo, em que se falasse de soluções comuns”, afirma Verônica Branco, professora de prática de ensino do setor de Educação da UFPR.
Nesse contexto, até mesmo a participação dos pais nas aulas não seria descartada. “Isso teria que ser planejado com a pedagoga da escola, mas é possível. Se o professor é bom, tem um planejamento que não vai ser atrapalhado pelo acesso da família”, diz Verônica Branco.
Coordenador do GEPEC (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Continuada) da Unicamp, o professor Guilherme do Val Toledo Prado acredita que a abordagem é válida, mas reforça que é preciso haver uma preparação para esse acompanhamento sistemático do trabalho do professor. “Quem tem que dar o tom dessa parceria são os interessados no processo, que são os professores e os alunos. Um médico não seria acompanhado pela família em uma cirurgia se não fosse avisado e preparado para isso”, compara. “Essa participação tem que ser construída sem penalização, sem um clima de fiscalização. Mas pode ser uma boa abordagem. Um pai dentro da escola vai ver, por exemplo, que o professor trabalha com 40 alunos, dos quais quatro têm necessidades especiais. E talvez conclua que esse educador precisa de ajuda em sala de aula”, diz.
Na opinião de Ricardo Antunes de Sá, professor do setor de Educação da UFPR, esse “acompanhamento” de colegas ou comunidade só deveria ser feito a pedido do educador. “Eu acho que na instituição privada o professor poderia se submeter a uma ‘mentoria’. Na escola pública isso seria muito mais difícil e enfrentaria profunda resistência. Para mim, o caminho ou a estratégia de formação continuada do professor precisa ter uma dimensão institucional”, acredita.
Com a absorção das teorias construtivistas no sistema de ensino, o papel do professor como principal figura do cenário do aprendizado foi revisto. A ‘habilidade’ do educador deixou de ser o único fator para explicar uma experiência bem-sucedida dentro da sala de aula e a figura do estudante é, neste contexto, bem menos passiva na construção do próprio conhecimento. Mesmo assim, ainda que para os recém-formados, a antiga mentalidade ainda permeia essa formação.
“Aprender a ensinar” passa também por uma intensa busca por aperfeiçoamento. Ricardo Antunes de Sá, professor do setor de Educação da UFPR, não acredita que ser ‘observado’ pelos colegas seja necessário para isso, mas o estudo coletivo precisa ser estimulado. “As escolas devem ter um programa de formação e qualificação profissional permanente. Sem dúvida que o professor precisa de suporte, de apoio e de incentivo permanente por parte das mantenedoras (públicas e privadas). Isso deveria ser uma ‘lei’ para todas as instituições de ensino”, afirma.
O sistema de mentoria já é aplicado no Colégio Sesi desde 2005. O professor que entra na rede passa por uma formação sobre a metodologia e também por uma prova que avalia a força dos conteúdos que vai ensinar. Caso seja detectada alguma fragilidade, o professor passa por um treinamento que vai reforçar os currículos que vão garantir que ele tenha o domínio do conteúdo.
Em sala de aula, uma pedagoga vai acompanhar esse desempenho semestralmente. “Há um checklist que vai verificar o domínio do professor, a relação dele com os alunos, o trabalho dele nas equipes, a condução de plano de aula dele. Ao final, o professor terá uma nota e um feedback sobre os pontos fortes e o que precisa ser aperfeiçoado”, diz Lilian Luitz, gerente de educação básica e continuada do Sesi no Paraná.
Os professores também são avaliados pelos alunos da rede (que atende ensino fundamental e médio), que vão atribuir notas que serão confrontadas com a do pedagogo. Somadas as notas, o Sesi saberá em que pontos precisa apoiar e fortalecer o educador. A hora permanência, em que é feito o planejamento, tem momentos de estudo em grupo e individual, com o pedagogo. Palestras e formações pontuais, como recentemente foram feitas sobre o jogo Baleia Azul, bullying e depressão também fazem parte desse apoio.
De acordo com Luitz, isso já se tornou uma cultura na rede. “A entrada do pedagogo em sala é uma prática, ele acaba se habituando e a abordagem é muito construtivista”, afirma a gerente.
Outro exemplo de acompanhamento é o feito pelo Colégio Militar de Curitiba (CMC), que conta com corpo docente composto por 46% de professores militares. Em nota, o CMC explicou que a coordenação pedagógica assiste às aulas e preenche uma ficha que avalia a prática do professor. “Os pontos fortes são enaltecidos e as oportunidades de melhoria são discutidas, a fim de aprimorar sua prática”.
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