Aulas de fotografia, artesanato, capoeira. Há uma série de coisas que a escola normalmente não oferece, que vão além do currículo obrigatório, mas que complementam a formação dos estudantes e interessam aos adolescentes. Por outro lado, existe muita gente com vontade de fazer mais pela educação, sem saber como. Unir essas duas pontas é o que propõe o portal Quero na Escola, criado por quatro jornalistas de São Paulo. Pela plataforma (www.queronaescola.com.br), lançada no fim de agosto, alunos de colégios públicos apontam o que interessa a eles aprender e aguardam voluntários dispostos a ensinar.
Programação e yoga estão entre pedidos de paranaense
Entre os pedidos recebidos pelo portal Quero na Escola estão os da curitibana Ana Paula de Carvalho, de 16 anos, aluna do 2.º ano do ensino médio da Escola Estadual Professora Maria Aguiar Teixeira, localizada no bairro Capão da Imbuia. A estudante gostaria de aprender a fazer uma horta e de ter aulas de programação, yoga e política. Ela conta que soube do site por meio de um canal do Youtube que acompanha com frequência. “Às vezes a gente sente vontade de aprender outras coisas, mas até por condições financeiras acaba não sendo viável”, afirma.
Na escola onde estuda, Ana Paula já fez aulas de italiano pelo Centro de Línguas Estrangeiras Modernas (Celem), programa criado há 30 anos pela Secretaria da Educação do Paraná para ofertar cursos gratuitos de idiomas aos alunos da rede. Mesmo assim, não falta vontade de ter contato com conhecimentos diferentes. Agora, a realização dos pedidos vai depender da divulgação do portal, para que as pessoas saibam das demandas que estão à espera de voluntários.
A travessia entre a velha escola e a educação do século 21 passa pelo protagonismo dos alunos. A máxima, defendida por pesquisadores da área, é também o que motiva as idealizadoras do portal, já que a origem da falta de motivação dos estudantes muitas vezes está na incapacidade de a escola e os professores compreenderem o mundo dos jovens. Mesmo com o pouco tempo de existência da plataforma, as quatro perceberam que, ao contrário do que prega o senso comum, os alunos não são “desinteressados” e têm, sim, muita vontade de aprender. “O que mais nos motiva é ver que os estudantes têm muito interesse em aprender e também há muita gente disposta a ensinar. A facilidade com que temos conseguido voluntários é surpreendente”, afirma Luciana Alvarez, que criou o portal junto com Cinthia Rodrigues, Luísa Pécora e Tatiana Klix.
Até o fim de novembro já eram 151 alunos e 65 voluntários cadastrados, de partes diferentes do país. Um dos pedidos atendidos foi uma palestra contra machismo e racismo, solicitada por uma menina de 16 anos em nome do grêmio estudantil de uma escola estadual da periferia da capital paulista. Com apenas um dia de divulgação nas redes sociais, quatro voluntárias, integrantes de coletivos feministas, dispuseram-se a ajudar. A palestra foi realizada no colégio no fim de outubro e reuniu quase 200 pessoas. Em outras escolas houve oficinas de artesanato, de cerâmica, aula de fotografia e contação de histórias. Luciana explica que o formato e a duração das atividades depende de cada desejo e da disponibilidade do voluntário. Uma das colaboradoras, por exemplo, deu continuidade ao trabalho e passou a atuar como contadora de histórias uma vez por semana na instituição de ensino.
Financiamento
O interesse pela iniciativa das quatro jornalistas foi tão grande que elas já não estão dando conta de colocar todos os pedidos no ar, conta Cinthia Rodrigues. Até o momento foram atendidos desejos de quatro escolas de São Paulo, mas há solicitações das cinco regiões do Brasil, incluindo o Paraná. Por isso, as responsáveis pelo portal lançaram uma campanha, no site de financiamento coletivo Catarse, para arrecadar R$ 25.900, dinheiro que será usado para custear visitas às escolas e aprimorar o site, entre outras despesas. A meta é ter cem escolas com pedidos registrados até o fim do primeiro semestre de 2016.
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