A relação entre música e marxismo é tema de curso na Universidade do Estado do Amazonas (UEA). A justificativa é a presença de artistas de esquerda, como Chico Buarque, na música popular brasileira.
O curso de extensão “Música e Marxismo”, iniciado no dia 23 de março, terá duração de três meses e abordará tópicos como “Samba e Luta de Classes”, “Música, Imperialismo e Terceiro Mundismo” e “Música sob hegemonia do Capitalismo Financeiro”.
Até mesmo o impeachment de Dilma Rousseff é tema de estudo nas aulas sobre “Crise do capital, golpe de 2016 e luta de classes”. O acontecimento será abordado no contexto de um “golpe de Estado” e o impacto para os músicos brasileiros.
“O marxismo aparece na história, no fim do século XIX, se formando como a teoria social mais importante da humanidade, tamanha a influência que exerceu nos rumos políticos e ideológicos. Seria estranho pensar que não há uma relação entre música e marxismo”, defende Bernardo Paiva Mesquita, professor de etnomusicologia e história da música brasileira no curso de música da Universidade do Estado do Amazonas.
A justificativa para o curso, de acordo com o docente, é a presença de artistas de esquerda na música brasileira: “Aqui em Manaus, tivemos um compositor chamado Cláudio Santoro, que teve uma aproximação muito grande com a União Soviética e o Marxismo. E nos anos 70, tínhamos vários músicos com concepções socialistas, de esquerda: Sérgio Ricardo, Chico Buarque... Todos eles tiveram alguma relação com ideias marxistas.”
O curso também faz críticas ao capitalismo; a “hegemonia do Capitalismo Financeiro” estaria influenciando as práticas musicais de uma forma que a visão marxista considera prejudicial.
Para falar sobre isso, as aulas abordarão os blocos de carnaval, quadrilhas de dança em festas juninas e prática musical dentro das igrejas, e analisará como a presença de estilos populares, como o rock e o pop, estaria prejudicando a cultura.
“A visão que tenho disso é a partir do marxismo”, explica Mesquita, que aponta a influência da cultura dos Estados Unidos como o fator prejudicial para a música.
“Isso tem a ver com o capitalismo financeiro, porque é ele que promove na sociedade essa busca incessante por mais individualidade nas relações. E isso afeta a identidade cultural, fragmenta a cultura, abala e contraria a tradição”, conclui.