Ao contrário das punições tradicionais para problemas de disciplina, meditação e aromaterapia: uma escola norte-americana trocou a detenção e as suspensões por técnicas de relaxamento para mudar o comportamento dos alunos. Os resultados são a menor ocorrência de brigas e, claro, mais disciplina.
Em Baltimore, a escola de ensino fundamental Robert W. Coleman adotou a meditação como resposta aos problemas disciplinares dos estudantes.
As sessões são realizadas em uma sala específica, chamada “Mindful Moment Room” (“Sala de Momento Consciente”, em tradução livre). No espaço, estudantes se acomodam em meio a almofadas e tapetes de yoga e fazem exercícios de respiração.
Parceria
O projeto é resultado de uma parceria com a ONG Holistic Life Foundation, que aloca funcionários na escola para trabalharem diretamente com alunos que apresentam problemas de disciplina.
Em cada situação de comportamento inapropriado, um funcionário conversa com o estudante, o incentiva a falar sobre o problema e então realiza exercícios de respiração e meditação até que se acalmem.
Além disso, todos começam e terminam o dia letivo com quinze minutos de meditação, e têm acesso a aulas de yoga durante todo o dia.
O objetivo da iniciativa é oferecer um espaço calmo na vida turbulenta dos estudantes: 80% dos alunos da escola são de baixa renda, e cerca de 25% vivem abaixo da linha de pobreza.
“Algumas das nossas crianças são moradoras de rua. Alguns vêm para a escola em situações em que não têm luz ou comida em casa. Eles veem crimes acontecerem nos seus bairros”, diz o diretor da escola, Carlillian Thompson. “Então estamos nos esforçando muito para que esse seja um lugar em que as crianças se sentem seguras e onde suas necessidades são atendidas”, completa.
A mudança teve resultados desde a implementação: Thompson afirma que se tornou raro receber alunos na diretoria para tratar problemas de disciplina.
No Reino Unido, a preocupação com a consciência é incentivada pelo Ministério da Educação como uma prática a ser adotada no cotidiano escolar.
De acordo com o ministro Edward Timpson, a abordagem é uma ferramenta necessária para que as crianças e adolescentes se conectem consigo mesmas.
“As crianças não conseguem se desconectar do mundo online, e isso está mudando a forma de muitos dos seus relacionamentos e as pressões que eles sofrem em uma idade muito mais tenra”, disse durante um debate no Parlamento.
“Queremos que as escolas tenham uma abordagem holística que faça falar de sentimentos, emoções e bem-estar como algo normal para os alunos”, completou.
Benefícios
Os benefícios da meditação foram analisados em um estudo realizado com quase 1800 estudantes de seis países sobre o impacto da prática no desempenho e bem estar dos alunos.
A pesquisa aponta que o ensino de meditação nas escolas leva a emoções mais positivas, maior otimismo, melhor autoestima e autoaceitação e menos níveis de ansiedade e depressão.
Essas mudanças emocionais geram melhorias na aprendizagem, com melhor desempenho acadêmico entre os alunos que praticam meditação regularmente. Entre os ganhos para a aprendizagem foram observados maior criatividade, foco e flexibilidade cognitiva, além de agilidade no processamento de informações e melhoria na memória.
De modo similar, estudo conduzido por pesquisadores da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) aponta que a meditação reduz problemas de comportamento e agressividade entre crianças e adolescentes.
Com base em uma análise de pesquisas feitas com crianças e adolescentes de 6 a 18 anos, em um período de 26 anos, acerca dos efeitos de práticas de meditação em ambientes como escolas, clínicas e centros comunitários.
Os benefícios da meditação também são comprovados em adultos: estudos realizados ao longo de três décadas mostram ganhos em longo prazo na redução de estresse psicológico e outros problemas de saúde relacionados, como ansiedade, depressão, distúrbios do sono e flutuações de peso.
Medida complementar
A meditação auxilia no equilíbrio emocional, mas a técnica não substitui terapia ou outras formas de assistência especializada. Para o professor Argos Gonzalez, criador do projeto Mindful Schools, que leva técnicas de meditação para escolas, a atividade não substitui terapia, mas alivia o estresse no momento de crise, “por tempo suficiente para alguém intervir”.
“Às vezes os papeis se confundem – professores, terapeutas, assistentes sociais”, explica Gonzalez. “Se não tratarmos o barulho na cabeça da criança quando ela o traz de fora da escola, não importa quão bom o professor seja, ele não terá muito sucesso.”