Um evento com a presença do cientista Richard Dawkins na universidade de Berkeley foi cancelado por causa de declarações “ofensivas” dele contra muçulmanos, o que reacendeu o debate sobre a falta de liberdade de expressão em uma das mais conceituadas dos Estados Unidos.
O evento havia sido agendado pela rádio KPFA, de Berkeley, para agosto. A ideia era que Dawkins falasse sobre seu livro de memórias, “Brief Candle in the Dark”. Mas o evento foi cancelado depois que alguns tuítes de Dawkins com críticas ao Islã foram enviados aos organizadores do evento.
Dawkins, o mais famoso expoente do chamado neoateísmo e autor do best-seller “Deus, um delírio”, tem um longo histórico de críticas à religião em geral, e ao Cristianismo especificamente.
Nos últimos anos, entretanto, com a ascensão de grupos terroristas muçulmanos, ele tem centrado boa parte de seus ataques no fundamentalismo islâmico.
“Nós não sabíamos que ele tinha ofendido – em seus tuítes e outros comentários sobre o Islã – tantas pessoas. A KPFA não apoia discursos ofensivos”, disse a rádio, em um comunicado.
Em um dos tuítes citados pela KPFA para justificar sua decisão, Dawkins afirma que o Islã é “a maior força para o mal no mundo de hoje”.
Dawkins, por sua vez, criticou a decisão da rádio, que ele disse ser sem fundamento.
“Eu sou conhecido como um crítico frequente do Cristianismo e nunca foi desconvidado por causa disso. Por que dar um passe livre para o Islã? Por que é aceitável criticar o Cristianismo mas não o Islã?”, disse ele.
O autor também disse que, longe de atacar os praticantes do Islã, entende que os próprios muçulmanos são as primeiras vítimas da cultura do Islamismo militante.
Reações
O cancelamento do evento com Dawkins provocou outras reações. “A decisão é intolerante, mal-fundamentada e ignorante”, escreveu Steven Pinker, autor e professor de Harvard, em carta à radio.
V.S. Ramachandran, conceituado neurocientista da Universidade da Califórnia, também protestou: “Dawkins é a pessoa mais corajosa e intelectualmente honesta que eu conheço. Concorde ou não com suas posições, você não pode questionar a integridade dele”, afirmou.
Histórico
Nos últimos meses, a tradicional universidade de Berkeley, na Califórnia, tem ocupado o noticiário por causa de sua restrição a palestrantes que destoam do discurso politicamente correto predominante na instituição.
Em abril, a universidade cancelou uma palestra da escritora conservadora Ann Coulter após protestos de estudantes de esquerda.
Em fevereiro, o mesmo havia ocorrido com o jornalista de direita Milo Yiannopoulos, cuja palestra também acabou cancelada em meio a atos de violência de manifestantes.
A transformação de Berkeley em um espaço hostil a certos tipos de palestrantes é mais surpreendente porque a universidade californiana esteve na vanguarda da luta pela liberdade de expressão nos campi americanos na década de 60.
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