De olho na boa remuneração e na estabilidade de empregos públicos, estudantes começam a pensar desde cedo na carreira de "concurseiros" e passam a mirar cargos municipais, estaduais e federais já na hora de escolher o curso que fará na graduação. Segundo professores acostumados com a realidade dos concursos públicos, algumas opções realmente dão vantagem aos jovens devido às habilidades desenvolvidas na faculdade e à grande carga horária em disciplinas essenciais nesse tipo de exame.
Segundo a professora Melissa Folmann, do curso de Direito da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e de preparatórios para concursos públicos, acadêmicos das áreas de Direito, Contabilidade, Administração e Economia contam com um leque de oportunidades muito maior do que os de outros cursos. Isso porque, além das vagas que exigem formação específica nessas áreas, esses alunos saem da faculdade mais preparados para disputas mais genéricas, que exijam apenas nível superior. É o caso dos concorridíssimos cargos de auditor da Receita Federal ou analista do Ministério da Fazenda.
Vantagem
O que beneficia estudantes de Direito é, principalmente, o conhecimento em legislação que adquirem. "Esses concursos mais gerais cobram conhecimentos jurídicos, principalmente nas áreas de Direito Administrativo e Constitucional. Os alunos que já viram o conteúdo durante a faculdade só precisam fazer uma revisão", diz Melissa.
A professora, no entanto, faz uma diferenciação entre os privilegiados. "Os alunos dos cursos de Economia, Contabilidade e Administração têm uma ótima base em Estatística e Matemática, superando os estudantes de Direito. Mas a base jurídica do curso de Direito é, naturalmente, muito superior."
Professor de Direito Tributário no Centro Universitário Uninter, Paulo Cesar da Cunha Souza concorda com Melissa e define esse quarteto de cursos como "profissões universais", justamente por viabilizarem muitas opções de carreira. "O setor público é administrativo e nele uma cultura geral é mais aproveitada do que conhecimentos muito focados", diz.
De acordo com o professor José Mario Tafuri, coordenador do curso de Direito no Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba), muitos editais definem grupos de cursos aos quais as vagas são destinadas, o que normalmente contempla Direito, Economia e similares. "O boom de cursos de Direito que tivemos recentemente se deve justamente à alta procura das pessoas que almejam esses concorridos cargos do setor público", diz.
"É um projeto para uns dois anos, pelo menos"
Concurseiro assumido, o formando em Direito pela PUCPR André Luiz Primão Lopes, 24 anos, orgulha-se da posição que ocupa. Já é servidor do Tribunal de Justiça do Paraná, ocupando um cargo cuja exigência é de nível médio. "Eu ganho quatro vezes mais do que um advogado em início de carreira e tenho uma jornada de trabalho bem menor", diz André, ao justificar sua preferência pelo setor público.
Prestes a se tornar bacharel, ele se prepara para um dos processos seletivos mais concorridos do país: o de diplomata, uma das carreiras que aceita candidatos de todos os cursos superiores. Aos que começam agora sua rotina como "concurseiros", André faz uma recomendação realista. "Não dá para esperar retornos imediatos, principalmente quando se pretende passar em concursos muito concorridos. É um projeto para uns dois anos, pelo menos", diz.
Preparação
Quem tem conhecimento em cálculo larga na frente
Antonio More / Gazeta do Povo
Formado em Administração desde 2009, Marcelo Hesse (foto), 35 anos, tem o setor público como meta. Interessado especialmente na estabilidade de carreira, ele tem frequentado as aulas do curso Ordem Mais para obter um bom desempenho no próximo exame do Tribunal de Justiça do Paraná. Mesmo não gostando de Matemática, ele admite que a formação acadêmica o beneficia na concorrência com colegas de outras áreas nas questões de cálculo. "Sei que estou um pouco mais identificado do que o pessoal de Letras, por exemplo. Isso dá sim alguma vantagem", diz.