Trote como sinônimo de humilhação, constrangimento e até violência é coisa do passado. Hoje a ordem é prestar serviço à comunidade e promover a integração pacífica entre calouros e veteranos. Em duas semanas de aula que começaram dia 6 nas instituições privadas , os estudantes mostraram que é possível comemorar a entrada na universidade de outra forma.
Bons exemplos não faltaram. Na Universidade Positivo (UP), assim como na maioria das outras instituições, coordenações e centros acadêmicos são responsáveis pela organização da recepção aos calouros de cada curso e a maioria optou pelo trote solidário. Os cursos de Direito e Medicina, por exemplo, doaram sangue aos bancos de Curitiba, como o Hemepar e o Hemobanco. Os estudantes deixaram a sala de aula por uma manhã para ajudar a abastecer os estoques, que ficam 40% menores em época de férias e carnaval.
Para os calouros que estavam ansiosos com o início das aulas e com o que os aguardava, o trote solidário trouxe um alívio e a boa sensação de fazer algo pelo próximo. "A primeira semana foi reservada para atividades de recepção e integração. Conhecemos a universidade e fomos ao Hospital da Cruz Vermelha doar sangue. Praticamente toda a turma participou", conta a caloura de Medicina da UP Luiza de Martino Borges.
Na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), além da doação de sangue, os estudantes foram incentivados a levar alimentos não perecíveis para serem doados a sociedades beneficentes. A universidade até fez convênio com uma rede de supermercados que permitiu que os alunos ficassem nas lojas tentando arrecadar doações com os clientes.
Integração
As vantagens do trote solidário não se restringem aos beneficiados com as doações. A ação também é responsável por integrar calouros e veteranos, fazer com que eles se conheçam e troquem experiências úteis à formação acadêmica.
Alguns cursos adotam o "apadrinhamento", que é quando cada novo aluno tem um padrinho veterano que fica responsável por lhe passar livros, cópias e dicas de estudo. Portanto, participar das atividades das primeiras semanas pode ser bem útil para o futuro do aluno na universidade. O veterano Iago Freire de Macedo Buhrer, do 4.º ano de Direito da UP, além de participar da doação de sangue faz parte de um grupo no Facebook que troca livros entre os alunos. "Faz muito tempo que não se faz aqui trotes agressivos, até porque a instituição proíbe. Fazemos festa, saímos todos juntos, mas sem nenhum abuso", comenta.
Pensando na ideia de promover a amizade entre os alunos e fazer com que os novatos se sintam acolhidos, a Universidade Federal do Paraná (UFPR) prepara para a primeira semana de aula, que inicia em 5 de março, uma grande festa de recepção. Apenas o trote solidário é permitido na instituição e, embora cada setor tenha a liberdade para preparar a recepção como quiser, existe uma festa geral para todos os cursos.
Para a pró-reitora de Assuntos Estudantis da UFPR, Rita de Cássia Lopes, o trote solidário, além de preparar o aluno para as atividades de cidadania e extensão, ajuda o estudante a se sentir valorizado, participante e integrado.