Estudantes da Universidade Federal do Paraná (UFPR) visitaram o acampamento de manifestantes em defesa do ex-presidente Lula, em Curitiba, na última quarta-feira (11). A visita foi feita por alunos do curso de Direito como parte de uma disciplina obrigatória sobre direitos humanos.
“Não importa sua ideologia ou posicionamento partidário, a prática em direitos humanos consiste em colocar-se no lugar do outro”, disse a professora responsável pela atividade, Danielle Annoni, em um post no Facebook.
A aula faz parte de uma disciplina obrigatória que estuda práticas de direitos humanos. A visita será considerada uma “atividade de extensão com carga horária de quatro horas” para aqueles que entregarem um relatório “até o dia 18 de abril na secretaria do NPJ da Faculdade de Direito da UFPR”.
No escopo de atividades da disciplina, está previsto que os estudantes observem diferentes comunidades. “Temos determinados públicos-alvo. Ano passado, foram os moradores de rua de Curitiba e mulheres que trabalham com prostituição”, justifica a professora, em entrevista à Gazeta do Povo.
De acordo com ela, a atividade não foi criada especificamente para o acampamento. “O acampamento veio auxiliar uma aula e uma prática que desenvolvemos desde o ano passado”, diz.
Movimentos sociais
Daniele afirma que a intenção da atividade é proporcionar aos estudantes uma experiência da força e extensão dos movimentos sociais. “A ideia é que os alunos possam ter suas próprias impressões após o contato com essas pessoas, a maneira como eles estão lutando por aquilo que acreditam e como nós podemos auxiliar, como compreendemos o papel da universidade dentro desse contexto”, diz.
O próximo passo da iniciativa é tentar solucionar demandas dos acampados por meio de um modelo de solução de conflitos de forma não judicial.
“Vamos nos reuniremos na próxima semana para que cada aluno diga o que foi absorvido daquilo e como podemos, a partir dos dados e impressões coletadas, resolver determinadas demandas que não sejam judiciárias”, afirma.
Apesar da natural relação com o processo político atual, Daniele garante não ter sido uma aula política. “Tenho uma posição política, como muitos alunos têm. Mas não era uma aula com esse cunho, não havia nenhum conteúdo de formação política”, ressalta.
Impressões
No dia seguinte a atividade, a professora fez um balanço em seu Facebook. De acordo com Daniele, há muitos movimentos sociais representados no acampamento.
“Os movimentos querem não apenas a liberdade de Lula, por acreditarem que a prisão é ilegal. Querem mostrar a força do coletivo, pressionando os governos para melhorias em educação, saúde, moradia, segurança, terra”, escreveu.
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“Destaque para igualdade de gênero no acampamento: homens e mulheres têm o mesmo apoio nas lideranças, muitas são as mulheres que assumem papel relevante na organização do movimento e todas relataram apoio, incentivo e respeito por parte dos colegas e companheiros”, continuou.
Ainda segundo a professora, não há conflitos entre moradores da região e integrantes do acampamento - desde domingo (8), os organizadores do Movimento Sem Terra (MST) afirmam que vários ônibus chegaram e mais de mil pessoas já estão nos arredores acampadas.
“Os moradores do local não estão raivosos com o acampamento. Ao contrário, há muita solidariedade no uso de banheiros e no acesso a energia elétrica e água potável”.
Outro lado
A Gazeta do Povo, porém, visitou o acampamento na última semana e registrou diversas reclamações de moradores do entorno.
Bárbara Weingartner relatou que as pessoas estão fazendo necessidades na rua. “A situação está caótica. Barulho alto o tempo todo, violão, tambor, algazarra. Não podemos receber gente em casa, receber encomenda. Está impossível, você tem medo de entrar em casa, eles estão sempre nos encarando”, disse.
Já um senhor, que preferiu não se identificar por temer represálias, contou que tem ido dormir às 3h:
“Tinha roda de samba no meio da rua. Minha mãe, que tem pressão alta, está muito mal e tenho medo que ela não aguente. O que mais tem aqui é gente idosa, nisso as pessoas não pensam. Já ouvimos até papo de que vão invadir casas”.