Na temporada em que comemora 25 anos de fundação, o Paraná vive a mais intensa revolução de sua existência. Uma reformulação sem precedentes.
Amanhã, às 21h50, na Vila Capanema, mais um teste para essa reforma do ‘piso ao teto’ na agremiação. O time de Nedo Xavier encara o Botafogo. Na 15ª posição apenas, desafia os cariocas, vice-líderes.
Estopim para a drástica mudança no curso da história do clube, a renúncia do presidente Rubens Bohlen completou dois meses em 24 de maio. Três dias após a saída, o então vice Luiz Carlos Casagrande, o Casinha, assumiu a principal cadeira do organograma paranista.
Com ele, o amparo financeiro do grupo autodenominado ‘Paranistas do Bem’, que prometeu investir R$ 4 milhões no futebol. Dos dez membros do grupo, apenas cinco assumiram cargos na agremiação. Os outros são tratados como colaboradores.
Foram reformulados radicalmente os departamentos jurídico, administrativo, financeiro e, especialmente, de futebol.
Neste último setor, em dois meses a nova diretoria contratou 16 jogadores e dispensou outros 12. Trocou ainda toda a comissão técnica e cargos de chefia da área: foram dez demissões e seis contratações.
Do time que disputou o Estadual, apenas o goleiro Marcos e o volante Jean seguem como titulares. Situação que causou ressentimentos entre remanescentes.
“Não valorizaram quem já estava. O elenco fica dividido, mas não por culpa de quem chega, e sim pelas circunstâncias criadas com essa reformulação”, diz um atleta do atual elenco. Com medo de retaliação, pede anonimato.
“Temos de esperar um pouco, ver qual será o fôlego. Ver se o pessoal que prometeu investir ficará firme. Tá muito no início, tudo muito fácil, e futebol não é assim, tem muito desencontro, sempre um pula do barco”, ressalva um empresário com atletas no Tricolor.
“Foi uma mudança radical, mas tinha de ser feita”, justifica Casinha, otimista com a transformação. Mais do que a troca de peças, o mandatário vê na revolução dos Paranistas do Bem a implementação de uma nova diretriz no clube, marcado nos últimos anos pelo problema crônico do atraso de salários.
O Paraná definiu teto salarial de R$ 20 mil. Com isso, fechou caminho para o atleta com maior identificação com a torcida: Lucio Flávio.
“Fizemos o mesmo nos outros departamentos. Havia ótimos profissionais, mas não tínhamos condições de bancar. Estamos nos readequando para manter tudo em dia”, explica o presidente, que garante que o aporte no futebol desafogou o clube nas demais áreas.
“Estamos com os meses de março e abril pagos. Devemos ainda janeiro e fevereiro, mas estamos negociando o parcelamento dessa dívida com os funcionários. O clube tem de pagar no dia certo”, explana.
Segundo Casinha, a primeira parcela de R$ 400 mil foi bancada inteiramente pelo empresário Carlos Werner, atual superintendente da base. Já a segunda foi fruto de um rateio entre os membros do grupo. Os valores investidos são registrados como mútuos, ou seja, cada centavo que entra deverá ser devolvido aos investidores.
“Nosso acordo é de que essa devolução aconteça até o final de 2016”, revela Casinha. “Em agosto, por exemplo, eu sou o responsável por juntar a cota de R$ 400 mil. A parte do Werner, por sua vez, acabou. Ele já fez o seu investimento”, garante.
A revolução conta com o apoio dos três principais conselhos tricolores. “O Deliberativo vê as mudanças com muito otimismo. É uma virada. Estávamos estagnados com tendência a piorar. Agora temos nova esperança. Já podemos respirar”, diz Oliveiros Machado, vice-presidente da área.
“O grupo apresenta toda a prestação de contas para o Fiscal. A transparência é grande e há um grupo dentro do conselho responsável apenas pelo monitoramento do aporte financeiro”, garante Thiago Oliveira, presidente do órgão de fiscalização.
Presidente do Conselho Consultivo, Benedito Barboza assegura o apoio à nova diretoria e endossa a retirada das ações que o clube movia contra os ex-presidentes José Carlos de Miranda e Aurival Correia sobre irregularidades na transferência do meia Thiago Neves para o Fluminense, em 2009. A medida causou racha no Jurídico do clube. “A retirada das ações antecedeu qualquer cogitação de saída do Bohlen. É uma questão puramente técnica”, defende.
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