Urbanismo
Viveiro do Ibirapuera será demolido para dar lugar a rede de fast-food?

Estufas não darão lugar a rede de fast-food, afirma Prefeitura. Foto: Cecília Bastos/USP Imagens | CECILIA BASTOS Jornal da Usp
Responsável pela produção de mudas destinadas às áreas públicas da cidade de São Paulo, o Viveiro Manequinho Lopes, localizado no Parque Ibirapuera, será alvo de uma série de reformas para sua adequação e integração com o parque. Ao contrário do que foi publicado pela Rede Brasil Atual, o local não será demolido para virar um restaurante. A afirmação de que o viveiro daria lugar a um fast-food causou polêmica nas redes sociais durante a semana. Uma petição online para evitar a demolição chegou a ser criada.
A revitalização do espaço está incluída como obrigatória no edital para a concessão do Ibirapuera e outros cinco parques (Jacintho Alberto, Jardim Felicidade, Eucaliptos, Tenente Brigadeiro Faria Lima e Lajeado) que está sendo realizado pela Prefeitura de São Paulo.
“[O viveiro] se trata de um bem tombado pelos órgãos de patrimônio. A preservação e restauro das estufas históricas do Viveiro Manequinho Lopes será uma obrigação do futuro concessionário”, explica a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Desestatização e Parcerias (SMDP) de São Paulo por meio de nota.
O que prevê o Anexo III da minuta do edital, publicada pela SMDP, é a revitalização do viveiro, sua reintegração ao parque e a construção de novas áreas de serviço, como sanitários e lanchonetes. O texto afirma que “a concessionária deverá realizar a reforma do Viveiro Manequinho Lopes no Parque Ibirapuera, no trecho onde se localizam as estufas, de forma a permitir sua integração com o restante do parque, […] como suporte à sua visitação, respeitado seu caráter histórico”.

A SMDP informa ainda que o edital está em fase de consulta pública até 20 de março, e por isso ainda pode sofrer alterações até que seja efetivamente aberto para licitação. “Tudo aquilo que for definido para o espaço do viveiro vai precisar passar pela aprovação dos órgãos do patrimônio”, afirma Ana Carolina Freitas, assessora da secretaria.
Na última quarta-feira (14), foi realizada uma audiência pública na Universidade Aberta de Meio Ambiente e Cultura de Paz (UMAPaz), onde foi apresentado o projeto da licitação e esclarecidas dúvidas da população. Freitas reforça que qualquer cidadão está apto a enviar contribuições para a versão final da licitação. As sugestões podem ser realizadas diretamente no site da secretaria. A publicação do edital definitivo está prevista para dia 7 de abril, e a definição do vencedor, 1 de junho.
Já em obras
Outra reforma do viveiro foi anunciada em setembro de 2017, a ser realizada pela fabricante de sabonetes Francis. R$ 1,25 milhão serão investidos pela empresa para manutenção das estufas e canteiros do Manequinho Lopes. O viveiro Arthur Etzel, no Parque do Carmo, também está incluído na parceria. A reforma faz parte do projeto SP Cidade das Flores, do programa SP Cidade Linda.
Segundo a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente (SVMA) de São Paulo, a reforma prevista está atualmente em fase de levantamento de dados históricos do viveiro, para que, posteriormente, sejam solicitadas aprovações dos órgãos de tombamento.

A estimativa é que as obras durem três anos. A reforma será mantida mesmo com a licitação do Parque Ibirapuera e a nova revitalização prevista no edital. “Uma coisa não exclui a outra”, afirma a secretaria.
Importância histórica
Professor do Instituto de Biociência da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em árvores urbanas, Marcos Buckeridge ressalta a importância do serviço que o Viveiro Manequinho Lopes presta à a capital. “O Manequinho consegue produzir uma quantidade de mudas compatível com as necessidades da cidade”, afirma. “E em São Paulo a gente tem árvores nas ruas, praças, parques [que são responsabilidade da SVMA e fornecidas pelos três viveiros da Prefeitura]”.
O professor destaca que o viveiro é fundamental para a manutenção do índice razoável de arborização na cidade de São Paulo. Segundo o Treepedia — comparador de índices de urbanização em ruas de grandes capitais mundiais realizados pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) —, a megalópole brasileira tem índice maior que a média das cidades e supera capitais como Paris.

Além da manutenção das áreas verdes da cidade, o viveiro também fornece gratuitamente a seus visitantes mudas para plantio, adequadas ao clima da região.
Criado há 90 anos, antes do próprio Parque Ibirapuera, o Manequinho Lopes já nasceu com o objetivo de arborizar São Paulo. Seu nome é em homenagem a Manoel Lopes de Oliveira Filho, responsável pela ideia de criação do viveiro.
Atualmente, o Viveiro Manequinho Lopes ocupa 48 mil m² do Parque Ibirapuera. São mantidas no local 200 espécies de plantas arbustivas e herbáceas. A estrutura do local inclui 10 estufas, 97 canteiros suspensos, 3 telados (estruturas cobertas com tela de sombreamento) e 39 quadras — onde é mantido um estoque de mudas envasadas para o uso por órgãos públicos municipais.