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OPINIÃO

A agenda da esquerda ‘antifascista’ tem muito em comum com o fascismo

Protesto contra a alt-right, em Charlottesville, em agosto de 2017 | CHIP SOMODEVILLAAFP
Protesto contra a alt-right, em Charlottesville, em agosto de 2017 (Foto: CHIP SOMODEVILLAAFP)

Um espectro sombrio pousou sobre a América: o fantasma do anticapitalismo. Jovens pegam carona no bonde socialista, e alguns ativistas bloqueiam a liberdade de expressão, como membros de um grupo chamado “Antifa”.

Este movimento dito “antifascista” promove protestos militantes e não hesita em recorrer à violência. Como parte da extrema esquerda, os membros do “movimento antifa” são “anticapitalistas” e “inimigos da direita” autodeclarados. Eles se descrevem como antifascistas, sendo que na realidade é o fascismo, mais que qualquer outra ideologia, que caracteriza seu movimento. Mas o que é o fascismo e qual é o conteúdo dessa ideologia?

O “Manifesto Fascista” 

O Manifesto Fascista foi proclamado em 1919 por Alceste De Ambris e Filippo Tommaso Marienetti. Em seu panfleto, os autores reivindicaram uma carga horária diária de oito horas de trabalho e a criação de um salário mínimo, representação dos trabalhadores na direção das fábricas e paridade entre sindicatos, executivos industriais e funcionários públicos. 

Os autores do Manifesto Fascista pediram tributação progressiva, seguro-invalidez e outros tipos de benefícios sociais, além da redução da idade de aposentadoria. O Manifesto também pedia o confisco dos bens de todas as instituições religiosas e a nacionalização da indústria armamentista. 

Seus autores defenderam a criação de um sistema corporativista de “Conselhos Nacionais” formados por especialistas a serem eleitos por suas organizações profissionais e que exerceriam poder legislativo em suas respectivas áreas. 

O socialista Benito Mussolini chegou ao poder na Itália em 1922 sob a bandeira do fascismo e implementou a maior parte do programa fascista do modo como fora proclamado no Manifesto Fascista alguns anos antes.  

Comparação com o Manifesto Comunista 

Uma comparação com o Manifesto do Partido Comunista, escrito por Marx e Engels e publicado em 1848, revela o parentesco entre fascismo e comunismo. O Manifesto Comunista de 170 anos atrás reivindicou: 

  • Tributação fortemente progressiva; 
  • Centralização do crédito nas mãos do Estado por meio de um banco nacional com capital estatal e monopólio exclusivo; 
  • Centralização do sistema de transporte nas mãos do Estado; 
  • Unificação das terras aráveis da agricultura e da indústria, com a finalidade de gradualmente eliminar o contraste entre a cidade e o campo; 
  • Ensino público gratuito universal, eliminação do trabalho infantil nas fábricas em sua forma atual, união do ensino com a produção material. 

De acordo com o Decálogo Comunista, os pontos que faltavam para se alcançar o socialismo pleno eram: 

  • Primeira exigência: desapropriação das terras em mãos de particulares e uso de sua renda básica para cobrir gastos estatais; 
  • Quarta exigência: Confisco dos bens de todos os emigrantes e rebeldes; 
  • Oitava exigência: Todos são igualmente obrigados a trabalhar; criação de um exército de trabalhadores, incluindo na agricultura. 

Tanto o Manifesto Comunista quanto o Fascista foram ecoados no programa oficial do Partido Nazista, fundado em 1920. 

Comparação com o Partido Nazista 

O próprio Adolf Hitler estava presente quando foram anunciados os 25 pontos do programa do Partido Nazista, em 24 de fevereiro de 1920. O próprio termo “nazismo” diz tudo: é a abreviação de NSDAP, ou Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei (Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães). 

Em 1925 a Assembleia Geral do NSDAP declarou imutável o programa de 1920, e em 1941 Adolf Hitler determinou que todos os futuros líderes do Reich se comprometeriam a promover os 25 pontos quando tomassem posse. 

O programa do Partido Nazista inclui reivindicações como: 

  • Socialização de empresas monopolistas; 
  • Municipação das grandes lojas de departamentos; 
  • Desapropriação de terras para fins beneficentes; 
  • Prevenção da especulação imobiliária; 
  • Ampliação de todo o sistema de ensino; 
  • Um sistema amplo de escolas públicas gratuitas, ajudas de custo e bolsas de estudo generosas; 
  • Um meio ambiente limpo e a promoção da saúde e boa condição física dos cidadãos.  

O programa do Partido Nazista também exigia: 

  • A abolição da renda fácil sem trabalho (item 11); 
  • O confisco dos lucros de guerra (item 12); 
  • Nacionalização de todos os trustes (item 13); 
  • Partilha dos lucros das grandes empresas (item 14); 
  • Ampliação generosa das aposentadorias (item 15); 
  • Criação de uma classe média forte (item 16); 
  • Uma reforma fundiária adaptada às necessidades nacionais, com uma lei de desapropriação gratuita de terras para fins beneficentes. A abolição do consumo de terras e a prevenção de qualquer especulação fundiária (item 17).

Na seção 20, o programa do partido previa que “o Estado deve assegurar a ampliação de todo nosso sistema nacional de ensino”, com a criação de um sistema amplo de subsídios à educação. 

A seção 21 rezava que “o Estado tem o dever de ajudar a elevar o padrão de saúde nacional, oferecendo centros de bem-estar materno, proibindo o trabalho infantil, promovendo a boa condição física dos cidadãos com a introdução de esportes e ginástica compulsórios, e com o maior incentivo possível às associações que trabalham com a educação física dos jovens”. 

Os nazistas pediram a criação de um “Exército do Povo” – não diferente do que foi promovido posteriormente pelos comunistas na Europa do leste e na Ásia.  

Inimigos da liberdade 

Essa seleção de reivindicações dos catálogos comunista, fascista e nazista mostra o alto grau de semelhança existente entre os pensamentos dessas três ideologias. O que os comunistas exprimem no slogan “de cada um segundo sua capacidade, a cada um conforme sua necessidade”, equivale à máxima nazista de que “o bem comum fala mais alto que o bem privado” (“Gemeinnutz vor Eigennutz”) e ao lema fascista “tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado”. Assim, não surpreende que os governos comunistas, fascistas e nacional-socialista tenham atuado como regimes repressores que não promoveram prosperidade, igualdade ou paz, mas miséria, repressão e guerra. 

Os atuais movimentos de esquerda que se definem como progressistas converteram o termo ao oposto de seu significado original, utilizando uma terminologia falsa para ocultar sua verdadeira agenda. Ao mesmo tempo em que se diz antifascista e declara o fascismo como sendo o inimigo, o próprio Antifa é o maior movimento fascista.

Seus membros não são adversários do fascismo, mas são, eles próprios, seus representantes genuínos. Comunismo, socialismo e fascismo são unidos pelo elemento comum do anticapitalismo e antiliberalismo. 

O movimento Antifa é um movimento fascista. O inimigo desse movimento não é o fascismo, mas a liberdade, paz e prosperidade.  

*Antony Mueller é professor alemão de economia que hoje leciona no Brasil. É autor de “Beyond the State and Politics. Capitalism for the New Millennium” (2018).

Traduzido por Clara Allain.
©2018 Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês.

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