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entrevista

Você vai querer saber o que este médico tem a dizer sobre ideologia de gênero

Marcelo Ribeiro: “Quando você começa a observar da parte de quem defende a ideologia de gênero um ataque pessoal contra o caráter daqueles que discordam, é inevitável que isso também atinja a parte científica” | Pixabay
Marcelo Ribeiro: “Quando você começa a observar da parte de quem defende a ideologia de gênero um ataque pessoal contra o caráter daqueles que discordam, é inevitável que isso também atinja a parte científica” (Foto: Pixabay)

A identificação com o sexo oposto e o eventual desejo de uma pessoa em assumir uma nova identidade de gênero é uma questão ainda sem consenso. A ciência, porém, diz que embora cultura e ambiente tenham importância nessa discussão, a determinação é biológica. “Sexo é estabelecido, é a biologia propriamente dita”, diz Marcelo Lemos Ribeiro, médico brasileiro radicado nos Estados Unidos há dez anos. “Diria que o gênero é, principalmente, uma construção política”, completa. Em entrevista à Gazeta do Povo, Ribeiro fala sobre o papel da ciência e da comunidade científica neste debate, além de sua relação com a sociedade. Confira: 

Gênero é uma construção social ou é uma definição biológica? 

Sexo é estabelecido, é a biologia propriamente dita. Enquanto gênero é a forma como o indivíduo se comporta. É algo mais subjetivo, não é como o estereótipo homem e mulher, mas sim como a pessoa se enxerga. Diria que o gênero é, principalmente, uma construção política; o termo começou a ser usado no meio do século passado justamente por pessoas que tinham como intenção criar uma confusão entre gênero e sexo. E hoje em dia realmente conseguiram criar esta confusão. 

O transtorno de disforia de gênero ainda é uma classificação correta? A medicina ainda a usa? 

Sim, essa é a classificação utilizada pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. A disforia de gênero ou o distúrbio de identidade de gênero são termos usados cientificamente tanto pela psiquiatria como pela psicologia. 

É normal que crianças com 4, 5 ou mesmo 6 anos, já estejam se identificando com o sexo oposto? 

É uma controvérsia que ainda é alvo de discussão em parte da comunidade cientifica; alguns setores corroboram, outros criticam. Não há um consenso, mas reitero que, na minha visão, isso é uma abordagem mais política e ideológica do que realmente cientifica, porque você está assumindo que uma criança de quatro ou cinco anos de idade teria a capacidade cognitiva ou desenvolvimento mental suficiente para tomar um tipo de decisão que, na verdade, ela não tem. Quando uma criança de quatro ou cinco anos se identifica com um cachorro ou com um super-herói, ninguém em sã consciência leva isso a sério. 

Existe um limite etário para que a criança não possa ser exposta a nenhum tipo de injeção hormonal? 

Cientificamente, também não há consenso; esse tipo de tratamento de afirmação de gênero é algo novo e não existem estudos longos o suficiente e com a qualidade necessária para você fazer um tratamento baseado em evidências concretas. O que tem sido feito é dependente da legislação local: nos EUA, por exemplo, crianças começam a usar hormônio por volta dos 11 anos de idade, antes da adolescência, para prevenir que características secundárias dela se desenvolvam. 

Por volta dos 11, quando começam a aparecer essas características – pelos pubianos, mamas –, elas começam a aplicar hormônios para atrasar esse desenvolvimento. Já por volta dos 16 anos, quando já se tornaram adolescentes, começam a tomar hormônios do sexo oposto. Dos 16 aos 18 anos, o indivíduo desenvolve características secundárias do sexo oposto e então, quando ele atinge a maior idade, tem a permissão para fazer a cirurgia de realinhamento de sexo no mesmo dia. 

Em congressos é comum a troca de acusações de ambos os lados, que vão de “transfobia” a “homofobia”. Nesses encontros a comunidade científica tem um receio de ser mal interpretada ou sofrer algum tipo de represália, e por isso evita de se pronunciar de uma forma mais contundente contra a ideologia de gênero? 

Quando você começa a observar da parte de quem defende a ideologia de gênero um ataque pessoal contra o caráter daqueles que discordam, em todos os pontos e setores da sociedade, é inevitável que isso também atinja a parte científica. Você vê muitas pessoas ignorando evidências científicas e passando a se posicionar de uma forma que agrade determinado lado ou ainda que possa prevenir problemas. Existem exemplos de médicos famosos e especialistas no assunto que perderam seus empregos porque discordaram de determinada abordagem de tratamento. 

Quais seriam essas abordagens? 

Basicamente, são duas: uma é de reafirmação, quando o médico e a sociedade passam a tratar o paciente como se ele fosse realmente do sexo oposto, enquanto a outra busca entender e tratar a causa; você vê o porque desse indivíduo estar tendo o problema de reconhecer o sexo que ele tem, e então tenta encontrar respostas. 

Dentro de toda esta questão, como devemos abordar os banheiros transgêneros? 

Creio que se trata de uma questão extremamente pessoal, mas de minha parte não acho viável mesclar homens e mulheres no mesmo banheiro; você não troca de sexo, você continua sendo um homem que se identifica como mulher, mas não deixa em nenhum momento de ser homem biologicamente. Entendo as pessoas que têm preocupação de suas filhas ou esposas não serem expostas no vestiário ou no banheiro a pessoas de outro sexo biológico.

O médico Marcelo Ribeiro também debateu o tema com a equipe de Ideias:

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