Nos próximos meses, Curitiba terá um de seus casarões históricos resgatados ao uso e à composição do cenário urbano. Após oito meses de projeto e nove meses de obra, o restauro do Sobrado Stolz está entrando na fase de acabamento. O imóvel fica na Rua São Francisco, em uma das regiões mais conhecidas da capital.
Nossa ideia é locar para uma empresa que traga algum benefício para a região. Um negócio que possa estar com as portas abertas durante o dia para que as pessoas também possam utilizar o espaço neste horário
A obra é uma empreitada da família que dá nome ao prédio e que, desde 1907, tem a propriedade do imóvel. A arquiteta Loriane Stolz Cisz Portes, quarta geração à frente do sobrado, conta que o investimento pesado no restauro veio da decisão de manter o imóvel na família e também de fazer com que ele volte a ser parte integrante da paisagem do Largo da Ordem. “Tínhamos duas opções: ou vendíamos e uma terceira pessoa tocaria [a revitalização], ou captaríamos recursos para realizá-la. Nossa decisão foi a de não nos desfazermos do imóvel”, conta.
Obra
Fazer com que a revitalização mantenha ao máximo possível as características originais do prédio de arquitetura eclética exigiu empenho por parte dos profissionais envolvidos na obra – o projeto arquitetônico de restauro é executado pela Stolz Arquitetura em parceria com a ArquiBrasil, enquanto a obra é assinada pela Zelta Construções.
Sobrado centenário
O Sobrado Stolz pertence à família de mesmo sobrenome há mais de um século. Em agosto de 1907, o bisavô da arquiteta Loriane, Luiz Bussmann, adquiriu o imóvel por cinco contos de réis e fez dele a moradia de sua família. Bussmann também era proprietário do prédio vizinho – na esquina das ruas São Francisco e Mateus Leme –, onde funcionava sua padaria. Com a saída da família do endereço, o sobrado serviu de sede para uma autoescola e para um bar antes de ficar fechado. A família não tem registros sobre o ano de construção do imóvel, nem sobre quem foram seus primeiros proprietários. A obra de revitalização deve ser concluída em outubro.
Após passar cerca de dez anos fechado, o sobrado estava bastante deteriorado, com os pisos e o telhado caídos e outras estruturas comprometidas. “A parede da fachada, por exemplo, estava solta da estrutura, com grande probabilidade de cair. Tivemos que fazer a recuperação e o travamento dela, o que levou cerca de cinco meses até entrarmos na fase de construção propriamente dita”, conta Rogério Muniz, engenheiro da Zelta Construções.
Para manter a integridade da construção, o prédio foi reestruturado desde sua fundação até o telhado, que recebeu vigas metálicas sem perder sua inclinação e cobertura originais, garantida pela instalação das telhas francesas.
Depois da recuperação da estrutura, marcada pelo pé-direito elevado e pelos arcos nas passagens internas, a dificuldade em encontrar os materiais e a mão de obra necessários para resgatar as características da construção é um dos maiores desafios do projeto, na opinião de Muniz. “Hoje, materiais como as madeiras de lei utilizadas no piso e no teto são muito caros. Além disso, tivemos que buscar marceneiros que pudessem reproduzir as portas e janelas nos moldes da época da construção. A empresa que está produzindo as peças é de União da Vitória e não costuma trabalhar com estes projetos, está fazendo para atender a nossa necessidade”, conta.
Investimento
Loriane e seu pai, Leonardo Cisz – que está custeando a obra – preferem não divulgar o valor direcionado ao restauro do sobrado da família, mas afirmam se tratar de um investimento caro. Para restitui-lo, eles planejam utilizar a verba decorrente da comercialização do potencial construtivo do imóvel – que, segundo a arquiteta, deverá cobrir cerca de 30% dos gastos – e do aluguel do espaço. “Nossa ideia é locar para uma empresa que traga algum benefício para a região. Um negócio que possa estar com as portas abertas durante o dia para que as pessoas também possam utilizar o espaço neste horário”, projeta.
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