Os investigadores da queda do Airbus A320 da companhia alemã Germanwings acreditam que o copiloto provocou o acidente voluntariamente, por razões ainda desconhecidas. A afirmação foi feita com base no áudio da cabine, que estava na caixa-preta recuperada. O acidente nos Alpes franceses, na terça-feira, deixou 150 mortos — 144 passageiros e seis tripulantes.
O copiloto Andreas Guenter Lubitz, de 28 anos, estava sozinho na cabine na hora do acidente, segundo as autoridades francesas. O comandante teria saído e, quando tentou voltar, encontrou a porta fechada. Desde os atentados de 11 de setembro de 2001, as companhias aéreas mantêm um sistema que trava as portas das cabines; elas podem ser abertas por fora, por meio de uma senha, mas quem está dentro pode travá-las.
De acordo com o promotor de Marselha Brice Robin, nos primeiros 20 minutos da gravação o copiloto manteve uma conversa “normal e cortês” com o comandante. Depois se escuta o comandante preparar o relatório de aterrissagem.
Companhias áreas vão manter dois tripulantes na cabine Posteriormente, o comandante pede para o copiloto assumir o comando do avião, provavelmente para ir ao banheiro. Em seguida é possível escutar o barulho da porta se fechando. Sozinho na cabine, o copiloto e aciona o sistema de descenso e não fala mais nada.
“Ignoramos a razão, mas pode ser analisada como vontade de destruir o avião”, disse Robin. O promotor ressaltou que não há pistas que indiquem que se tratou de um atentado terrorista, nem menções a Lubitz em qualquer lista de suspeitos de terrorismo.
Segundo o promotor, os passageiros não se deram conta do que ocorria até o último momento. Na gravação só são ouvidos gritos pouco antes do impacto. “A morte teria sido instantânea. A aeronave literalmente se desfez em pedaços”.
Pesadelo
Um porta-voz da Lufthansa disse que Andreas Lubitz trabalhava na Germanwings desde setembro de 2013 e tinha 630 horas de voo. Já o comandante trabalhava na empresa desde maio de 2014 e tinha mais de 6 mil horas de voo no currículo. Ele havia trabalhado na Lufthansa e na Condor.
O diretor executivo da Lufthansa, Carsten Spohr, classificou como “pesadelo” a possibilidade de Lubitz ter derrubado o avião. “É o nosso pior pesadelo que tal tragédia possa ter acontecido no nosso grupo”, disse.
Spohr disse que Lubitz foi considerado apto por médicos e psicólogos em duas avaliações, mas admitiu que os pilotos da Lufthansa e da Germanwings não passam por avaliações psicológicas de rotina. De 6 mil candidatos a piloto, em média 200 são admitidos. Os pilotos são submetidos uma vez por ano a exames de saúde, mas não repetem qualquer tipo de avaliação psicológica. Há um sistema que permite aos próprios pilotos informar anonimamente quando observam forte mudança de comportamento de um colega.
Segundo Spohr, Lubitz havia tirado uma pausa de 11 meses, no qual trabalhou como comissário de bordo, mas não deu mais detalhes. Para ele, não se trata de um caso de suicídio. “Não sou advogado, mas se uma pessoa leva mais 149 pessoas a morrer, então precisamos de outra palavra que não seja suicídio”.