A campanha eleitoral mais imprevisível da Grã-Bretanha em décadas teve ontem seu último dia com os dois principais partidos igualados nas pesquisas e sem perspectivas de obter maioria no parlamento da quinta maior economia do mundo.
Apesar de cinco semanas de campanha, nem o Partido Conservador, do primeiro-ministro David Cameron, nem o Partido Trabalhista, de Ed Miliband, têm uma clara vantagem, o que indica um resultado confuso e um quadro incerto depois da votação de hoje.
As questões em jogo são cruciais porque uma rara confluência de fatores determinantes para o futuro da Grã-Bretanha na União Europeia, bem como para sua coesão nacional, poderá depender do resultado.
Cameron prometeu realizar um referendo sobre a possibilidade de o país permanecer ou sair da União Europeia caso continue no poder. E as pesquisas sugerem que os nacionalistas escoceses podem emergir como o terceiro maior partido da nação, apesar de terem sido derrotados em um plebiscito do ano passado sobre a independência da Escócia.
Há cinco anos, a Grã-Bretanha tem o seu primeiro governo de coalizão desde a Segunda Guerra Mundial, já que o partido de Cameron não conseguiu maioria absoluta nas eleições anteriores e fechou um acordo com o Partido Liberal Democrata, do vice-primeiro-ministro Nick Clegg.
Muitos britânicos consideraram que se tratava de uma exceção na política do país, mas a ascensão de partidos marginais, como o pró-independência Partido Nacional Escocês e o Partido da Independência (Ukip), contrário à permanência na União Europeia, drenaram o apoio aos dois principais partidos.
Pesquisa da TNS divulgada ontem mostrou o quanto a disputa está acirrada. Na sondagem, os conservadores estão 1 ponto à frente dos trabalhistas, o que indica que nenhum dos dois grandes partidos conseguirá maioria absoluta no Parlamento, de 650 assentos.
Outras pesquisas indicam que os dois principais partidos terão votações próximas dos 34%, apesar de as projeções mostrarem os conservadores com mais assentos na Câmara dos Comuns devido ao peculiar sistema eleitoral britânico, no qual cada um dos 650 distritos do país elege um só deputado e descarta os outros candidatos.
Apesar dessa mínima vantagem em cadeiras, Cameron não teria apoios suficientes para tentar formar o governo, o que deixaria a porta aberta para Miliband se aproximar do Partido Nacional Escocês, que, segundo as pesquisas, conquistará um peso inédito no parlamento, tornando-se a chave da governabilidade.