Milhões de venezuelanos votaram na eleição parlamentar deste domingo (6) num ambiente marcado por irregularidades. A votação para definir as 167 cadeiras da Assembleia Nacional unicameral, dominada há 16 anos pelo chavismo, ainda não havia terminado até as 20h.
O abuso mais significativo foi a cobertura da TV estatal ao longo do dia em favor dos candidatos chavistas, numa violação da lei que proíbe propaganda após o término da campanha – encerrada na última quinta-feira (3).
O atual presidente da Assembleia Nacional e candidato à reeleição, Diosdado Cabello, pediu ao vivo votos para o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV).
“Se [os eleitores] estão perdidos, que votem pelo PSUV, aí não tem erro”, disse, aos risos, ao ser questionado sobre a pouca visibilidade dos candidatos da aliança opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD). Opositores praticamente não tiveram acesso à TV estatal.
A reportagem presenciou duas outras irregularidades, ambas no centro de votação do parque Alí Primera, no bairro pobre de Catia, bastião chavista a oeste de Caracas.
A primeira era a instalação de um “ponto vermelho”, como são chamadas as mesas de assistência ao voto chavista, ao lado do portão do parque. A lei permite presença partidária, desde que esteja a pelo menos 200 metros do centro de votação.
A segunda era a passagem frequente de carros de som com músicas chavistas.
Também houve relatos de abusos por parte da oposição, que teria distribuído material de campanha perto de centros de votação pelo país.
Foi registrada, também, uma alta incidência de voto nulo. Não foi possível verificar até a conclusão desta edição se os casos indicavam anormalidade ou se faziam parte da cota de erros dos eleitores na hora de votar.
“Apertei na tecla, mas o comprovante da máquina deu nulo. E ainda ameaçaram me prender quando esbravejei”, disse Martin Noguera, 69, após votar no bairro Las Acacias.
Caso semelhante ocorreu com Sara Rojas, 50, mas os funcionários do órgão eleitoral (CNE) lhe entregaram um comprovante de incidente que poderá servir em caso de auditoria. “Não pude exercer meu direito de votar, estou furiosa”, afirmou.
A presidente do CNE, Tibisay Lucena, minimizou o tema, que repercutiu nas mídias sociais. “Não é nada extraordinário nem massivo. É preciso ficar atento para ver exatamente o que aconteceu”, afirmou.
A ONG Transparência Venezuela relatou ao menos 11 casos de violação à liberdade de expressão. Repórteres do jornal opositor “El Nacional” teriam sido agredidos a pedradas e outros jornalistas foram momentaneamente detidos pela polícia ou obrigados a apagar gravações.
A oposição afirmou que iria reportar todos os casos à missão da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) que acompanha o pleito.
Um dos chefes da campanha chavista, o candidato Ernesto Villegas, disse à reportagem que o país é uma “democracia vigorosa”. “Os venezuelanos confiam no sistema eleitoral, do contrário ninguém estaria votando”, afirmou.
Comparecimento
A participação popular oscilava conforme a zona visitada pela reportagem.
O movimento parecia mais intenso em zonas populares, como Alta Gracias, no centro de Caracas, onde a eleitora chavista Maria Alejandra, 39, administradora de empresas, disse que as pesquisas prevendo vitória da oposição são enganosas.
No bairro de Catia, moças que faziam uma pesquisa de boca de urna em nome de uma “consultoria privada” admitiram ao repórter que o cliente era o governo. Segundo elas, eleitores opositores foram mais numerosos no início da manhã. Por volta das 10h30, elas disseram que a balança havia se equilibrado.
Em Chacao, bastião opositor de classe média alta, praticamente não havia fila até o início da tarde. “Vim votar para salvar o país, mas me preocupa que haja tão pouca gente. Os venezuelanos são preguiçosos”, disse a arquiteta Caroline de Maya, 29.
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