Teerã Mahmoud Ahmadinejad, o polêmico presidente iraniano, provocou controvérsia em Nova Iorque quando declarou que não existem homossexuais em seu país. Ao menos é o que ele diz acreditar. Essa crença de uma sociedade islâmica exclusivamente não-gay, no entanto, é minada pelo paradoxo de que a transexualidade e a mudança de sexo são toleradas e encorajadas pelo atual sistema teocrático iraniano.
De acordo com as estatísticas oficiais, o Irã tem entre 15 mil e 20 mil transexuais, mas estimativas indicam a existência de mais de 150 mil. O Irã só fica atrás da Tailândia no número de operações para troca de sexo. Tal procedimento foi "legalizado" pelo aiatolá Khomeini, líder espiritual da Revolução Islâmica de 1979, por meio de uma fatwa (pronunciamento legal no Islã emitido por um especialista em lei religiosa) autorizando a cirurgia, há mais de 25 anos.
Enquanto a homossexualidade é considerada como um pecado, a transexualidade é categorizada como doença passível de cura.
O governo iraniano tenta ser discreto ao que se refere a este "consentimento". O apoio estatal à mudança de sexo, entretanto, só aumentou desde que Ahmadinejad tomou posse, em 2005. Seu governo concede US$ 4,6 mil (cerca de R$ 9 mil) para uma pessoa que deseja fazer a cirurgia e o tratamento hormonal que se segue após a operação. Existem também propostas para empréstimos de até US$ 5,6 mil (cerca de R$ 10 mil) para todos aqueles que fizerem a cirurgia e desejem iniciar um negócio próprio.
Maryam Khatoon Molkara, líder da principal organização transexual do país, diz que algumas das pessoas que fazem a cirurgia são "gays" e não transexuais por inteiro. "No Irã, os transexuais integram a família dos homossexuais. Será possível que esse fenômeno não exista em nenhum lugar do mundo a não ser no Irã? A transexualidade é uma via de mão-única, não há retorno. Se alguém (homossexual) quiser estudar, ter um futuro e uma vida normal o jeito é passar por esta cirurgia", afirma.
Durante seu discurso segunda-feira passada na Universidade Columbia, em Nova Iorque, Ahmadinejad alegou que a homossexualidade não existia no Irã. "No Irã não temos homossexuais como se vê no seu país", declarou ele a um entrevistador que havia acusado o governo iraniano de executar homossexuais.
Molkara, responsável por persuadir Khomeini a criar a fatwa da transexualidade, diz que a postura do presidente não condiz com a política estatal de troca de sexo. "Eles alegam que a homossexualidade não existe, mas ninguém nunca me deu uma chance para usar minha influência sobre os transexuais para impedir a transexualidade", declarou.
Os integrantes de campanhas gays alegam que vários homens homossexuais foram executados numa onda de enforcamentos durante o último verão iraniano. Shirin Ebadi, advogada dos direitos humanos e prêmio Nobel da paz, explica: "No Código Criminal iraniano existe uma parte dirigida à homossexualidade dos homens, que é chamada de lavat (sodomia), a qual é punida com a morte. Para as mulheres, existe uma parte chamada mosahegheh. Se o crime for cometido até três vezes, a pena é de 100 chibatadas. Na quarta, a mulher é executada."
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